Nepal
Nós gostamos muito de fazer caminhadas. Em nossas férias normalmente procuramos roteiros que possamos incluir algum trekking para fazer. Em nossa última férias fomos para a Patagônia e lá fizemos o trekking de Torres del Paine no Chile e os trekkings do Fitz Roy e Cerro Torre em El Chaltén, na Argentina. Quando terminamos o circuito em Torres del Paine, conversamos com um americano que tinha feito um tal de circuito Annapurna no Nepal. Ele soltou a seguinte frase: “Se vocês acharam legal fazer o W, vocês precisam ir para o Nepal e fazer o circuito Annapurna, é o circuito de trekking mais absurdo que já fiz”, pronto, estava feita a nossa cabeça, a idéia de visitar o Nepal nasceu ali. O Nepal foi o único país planejado em nossa rota. Queríamos estar no Nepal no começo de Outubro, depois da época da chuva e, por isso, todo o roteiro antes foi definido em torno desta data. Quando se fala de Nepal, temos uma única coisa em mente: Himalaias. A região que detêm as montanhas mais altas do mundo, o Everest, K2, as Annapurnas e outras tantas. Não é a toda que o Nepal é conhecido como o “Teto do mundo”. No Nepal foi onde também realizamos a nossa campanha de crowdfunding, financiamento coletivo para arrecadar dinheiro para financiar algum projeto, no nosso caso, um projeto de ajuda as vítimas do terremoto ocorrido no mês de Abril/15. Essa história do crowdfunding é bem interessante. Além de estar no Nepal no mês de Outubro para fazer o trekking de 13 dias do Annapurna Circuit, acreditávamos que poderíamos ajudar ao povo do Nepal de alguma maneira. Soubemos que o turismo é a principal fonte de renda do povo nepalês e após o terremoto, o turismo foi bastante afetado. Estávamos na Turquia (Julho/15) quando criamos a seguinte campanha: o objetivo era financiar a minha ida ao acampamento base do Everest, porém por ser uma campanha flexível, deixamos bem claro para os apoiadores que caso não atingíssemos a meta financeira, iríamos doar todo o dinheiro arrecado para uma instituição ou uma família específica, ou seja, era uma campanha na qual o povo nepalês sairia ganhando de qualquer maneira ;). E para nós a campanha foi um sucesso, conseguimos arrecadar 75% do valor pretendido, algo em torno de R$ 3.750. Uma quantia modesta para os padrões ocidentais, porém de um valor enorme para os nepaleses. Nosso roteiro no Nepal estava dividido em realizar o trekking e depois fazer um projeto voluntariado além de entregar a quantia arrecadada. Esse post do Nepal é um dos mais aguardados por nós.
Kathmandu – parte 1
Saímos de Teerã com um vôo para Kathmandu. Eu estava bem ansioso para chegarmos no Nepal. Vôo demorado e com uma parada em Sarhja nos Emirados Árabes. Pegamos um vôo noturno. Logo no nascer do dia, os primeiros raios de Sol começaram a entrar pelas janelas abertas do avião, não tivemos dúvida, pulamos para um lugar no avião onde pudéssemos ver a cadeia de montanhas. Foi sensacional e emocionante, ver os Himalais de cima e ainda ver os picos acima das nuvens é algo indescritível. Já ficamos emocionamos só de ver e pensar que em pouco tempo estaríamos ali no meio, caminhando e experimentando o contato com a natureza e suas montanhas. Chegamos em Kathmandu e no trajeto até o nosso guesthouse vimos algumas construções danificadas pelo terremoto. Mesmo depois de 6 meses após o terremoto é possível ver que tem coisa para fazer e arrumar. O fluxo de turistas continua alto, mas não muito comparado com os anos anteriores. Em Kathmandu fizemos contato com o Takur. Ele tem uma agência de turismo que organiza os trekkings e foi ele que agilizou o nosso trekking pelo Annapurna bem como nos ajudou com a doação do valor arrecadado. O Takur foi o nosso braço direito em nossa estadia no Nepal. Ele foi uma indicação do Daniel Oliveira do blog Próxima Parada. Nessa perna em Kathmandu focamos em agilizar o trekking e resolvemos fazer turismo em nossa volta. Ficamos uns 4 dias. Nesses dias que ficamos, fizemos amizade com um brasileiro, o Dilmar, que estava no Nepal para fazer a caminhada até o acampamento base do Everest. O Dilmar tem a idade dos nossos pais e um filho da nossa idade, conhecer ele foi bacana, conversamos bastante coisa. Tudo pronto. Bora caminhar pelo Nepal.
Annapurna Circuit – 13 dias
Uma breve explicação sobre o circuito Annapurna. O Nepal é cheio de possibilidades de trekkings para tudo quanto é gosto, tempo e bolso. Entre as várias opções esse circuito é um dos mais famosos já que além de você caminhar por dias pelos vales é possível observar os picos de 4 das 6 Annapurnas. Neste circuito, você atravessa o passo de montanha mais alto do mundo, o Thorong La pass, com os seus 5.416 metros de altitude. Por ser um circuito, ele pode ser feito no sentido horário ou no sentido anti-horário (o que fizemos). No sentido que fizemos você vai aos poucos ganhando altitude com o fim no Thorong La, pelo sentido horário você já chega aos 5.614m logo no 2o dia. Tem gente que faz dessa maneira, nós optamos por ir mais de boa. É um clássico circuito de trekking mundialmente conhecido. E lá fomos nós para mais um trekking.
KTM para Nadgi – 930 metros
Nosso primeiro dia (30/09/15) foi basicamente deslocamento. Encontramos o Suman, nosso guia e já fomos para a rodoviária de Kathmandu. O Suman mora em Kathmandu e estuda Administração em uma universidade. Sua família mora em Gorka, a cidade onde foi o epicentro do terremoto e foi uma das mais afetadas. A estrada era bem sinuosa, motorista buzinava a cada curva e ainda dirigia rápido. Rolou um Moçambique feelings.Paramos para almoçar e comemos Dal Baht. O Dal Baht é a comida mais típica do Nepal, uma espécie de sopa de lentilha com arroz e uma espécie de casquinha para acompanhar. O Dal Baht é muito bom. Comemos algumas vezes durante nossa caminhada. Nesse restaurante comemos a moda nepalesa, com as mãos. Foi a primeira vez da Dani. Ela curtiu pacas. As distâncias no Nepal entre as cidades pode até ser pouca, mas certamente vai demorar muito mais pois as estradas são de mão única e com um tráfego, dependendo da região, bem pesado. Depois de algumas mudanças de ônibus, chegamos ao nosso primeiro vilarejo. Nadgi é um vila muito pequena. Não dá nem para chamar de vila, pois tem umas duas ou três pousadas que beira a estrada principal e um mercadinho. Ficamos a nossa primeira noite em Nadgi. Deu tempo de jantar, bater papo com algumas outras pessoas que iriam começar a caminhada na manhã seguinte e descansar. A temperatura estava boa.
Vegetação: floresta tropical.
Nadgi para Shreechaur – 1165 metros
Tomamos café cedo, às 07:00 para sairmos as 07:30. Além do Suman (nosso guia), coincidiu de outras pessoas e seus respectivos, irem fazer o mesmo trajeto e para todos foi muito bom que isso aconteceu. Fizemos amigos de caminhadas e fomos quase o trajeto todo com esse nosso “grande” grupo. Erámos em 7, Eugene (Bielorússia) e seu guia, Marteen (Bélgica) e seu guia e nós e o Suman. O grupo que formamos ficou bem unido, sempre decidíamos pelo grupo, mesmo que fossem coisas independentes. Passamos pela primeira vila do caminho. Lá descansamos e já começamos a ter contato com os locais. O tempo estava bom, por ser uma região de floresta, a umidade é muito parecida com a que temos no Brasil. Durante a caminhada passamos por vários campos de plantações de arroz e seus desníveis que são um espetáculo para fotografar os camponeses. A caminhada tinha começado de uma maneira especial. Almoçamos em um restaurante, já pedimos mais um Dal Baht, para não perder o costume ;). Cruzamos a nossa 1a ponte suspensa e no meio da tarde já estávamos em nossa Tea House. Aproveitamos para descansar, tomar um banho “quente” enquanto tínhamos os raios de sol, já que depois do pôr do sol, a temperatura caia bastante.
Vegetação: floresta tropical e campos de arroz.
Shreechaur para Dharapani – 1867 metros
Dia puxado. Começamos cedo, às 07:30 já estávamos no caminho. Começamos a subir e já começamos a sentir o ar um pouco mais gelado, mesmo com a temperatura estando entre os 30 graus durante o pico. Durante o dia tem ficado bem quente, porém ao amanhecer e a noite fica frio. Subimos várias vezes hoje. O sobe e desce foi bom para nos acostumarmos. O interessante que no sentido anti-horário dá a chance para o corpo se aclimatar e acostumar aos poucos com a altitude. Ao longo do caminho encontramos uma família de israelenses que nos acompanhou quase todo o trajeto também. Foi muito engraçado como nos aproximamos. Eu já tinha visto eles durante a caminhada e comentei com a Dani, “esses caras são israelenses!”, quando cruzamos por eles comprimentei eles em hebreu “Shalom” a cara de espanto deles foi muito engraçada. Eles eram em 4, o pai e seus 3 filhos que saíram de férias para curtir o Nepal. Eles estavam em uma viagem só os homens. As respectivas mulheres e crianças ficaram em Israel. Foi divertido demais conversar com eles depois de ter passado por Israel. Um deles até deu uma barra de tarrina, uma espécie de paçoca israelita. Deu para matar as saudades desse doce. Seguimos a caminhada e agora tínhamos como vegetação vários pé de maconha ao natural, como erva..rs, sabe como? E esses pés nos acompanharam por um bom tempo. Já estávamos um pouco mais alto. Cruzamos mais duas pontes e uma garganta chamada Mar Syandi. O vale é impressionante. Já não víamos mais plantações de arroz. Chegamos em Dharapani, típica vila nepalês com um ar de vila de montanha. O corpo já começou a se acostumar com a mochila. A caminhada na Geórgia que fizemos pela região de Mestia foi um ótimo preparatório. Fim do dia, um chazinho de limão, gengibre e mel para esquentar e cama.
Vegetação: floresta tropical e pés de maconha
Dharapani para Chame – 2627 metros
Novamente, as 07:30 já estávamos caminhando. Manhã gelada. Saímos agasalhados e ao longo do dia fomos guardando as roupas. Caminhamos mais pela estrada do que pela trilha. Apenas em um momento saímos da estrada para subir um baita morro, fomos devagar, como diz o Suman, “Bistare, Bistare”, devagar em nepalês. Avistamos a 1a Annapurna II e o Manaslu (6a maior montanha do mundo). Foi animal começar a avistar essas montanhas. Algumas fotos. Ao longo do caminho, andamos no meio de uma floresta de pinheiros. A vegetação já mudou. O ar está mais seco. A poeira pegou bastante hoje durante a caminhada na estrada. Ao longo da caminhada pudemos observar outros grupos fazendo o mesmo trajeto. Aqui tem gente de todas as partes do mundo. De brasileiros só nós por enquanto. Chame é uma vila pequena porém muito bonita. Com a influência do budismo, já na sua entrada encontramos a nossa primeira praying-wheel, uma construção com várias rodas onde você passa a mão percorrendo e girando todas as rodas da construção enquanto canta algum mantra. No caso, eu escolhi um mantra muito famoso, “Om-Ma-Ni-Pad-Me-Hum” que significa “Da lama brota a flor de lótus”. É um mantra que tem um significado bem especial aos praticantes do budismo. Quando fui tirar minha bota percebi minha primeira bolha no calcanhar (nada bom, ainda temos bastante chão até chegarmos ao final). Nesse dia ligamos para a minha vó Zélide, ela fez 83 anos. Foi uma ligação muito rápida, o preço da ligação estava muito caro. Ao longo do caminho tivemos a chance interagir bastante com as crianças nepalesas. Elas são divinas e doces. A cada vilarejo que temos passado ao longo do caminho sempre damos um Hello e elas cumprimentam com um “Namastê” com as mãozinhas juntas nos saudando, como diz a Dani, “coisa mais fofa!”. Estou feliz de estar com a Dani caminhando esse circuito.
Vegetação: floresta de Pinheiro
Chame para Pisang – 3138 metros
Saímos cedo e fomos pegar 2 litros de água da estação de tratamento em Chame. O preço da água está aumentando muito e essas estações de tratamento de água são ótimas opções para economizar. Pelo caminho já avistamos mais montanhas ao longe. O cenário já está bem diferente do começo. Hoje o grupo caminhou pela estrada a grande maioria do trajeto. Almoçamos no meio do caminho e do nosso restaurante pudemos observar a Annapurna I (7937 metros). O pico é muito bonito. Novamente, algumas fotos pelo caminho. Estamos bem, a bolha aparentemente não está me incomodando. Existem duas vilas em Pisang, a Lower e a Upper Pisang. Ficamos na Lower Pisang, porém como chegamos cedo, decidimos subir até Upper Pisang. A Dani ficou na guesthouse, não estava se sentindo bem. No fim do dia ligamos para a minha mãe, a Estelinha, a ligação foi bem rápida também. Estive o dia todo com o pensamento nela. Upper Pisang é muito legal. Uma vila minúscula, com casas feitas de pedra. Um achado no meio dos Himalaias. A vista do vale onde fica Lower Pisang é sensacional.
Vegetação: floresta de Pinheiro e arbustos baixos
Pisang para Manang – 3540 metros
A Dani acordou bem melhor e convenci ela e o Suman que deveríamos subir novamente até Upper Pisang para ela ver a vila e o lindo monastério que tem no topo da cidade. Chegamos bem cedo e abrimos o monastério. O monge que nos recebeu até fez uma mini cerimônia onde ele nos entregou o “Rata”, o lenço budista de proteção aos caminhantes. A Dani estava muito emocionada com o templo e suas pinturas, bem como com o presente que recebemos do monge. Nos sentimos mais protegidos em seguir a diante. A caminhada foi bem tranquila, hoje caminhamos somente nós três, o restante do grupo optou por fazer um outro caminho que aumentaria em um dia o trajeto. Agora somos só nós três. Não tivemos um grande desnível em termos de altimetria, porém o Sol castigou hoje. O trecho final até Manang foi com bastante poeira. No caminho avistamos Annapurna IV (7525 metros) e Annapurna III (7555 metros). Paisagem surreal. Estamos passando pelas costas das cadeia de montanha das Annapurnas, por isso conseguimos avistar quase todas. Chegamos em Manang um pouco resfriados. Foi tempo de comprar mais água na estação de tratamento de água da vila e tomar muita água para ver se já nos recuperamos do resfriado. A noite já estamos indo jantar com os casacos de frio. O clima e a paisagem já estão bem características de montanha.
Vegetação: arbustos baixos e rochas
Manang (aclimatação) – 3540 metros
Hoje foi o nosso dia de descanso e de aclimatação. Eu acordei bem melhor do resfriado, mas a Dani não. De manhã fomos caminhar ao redor de Manang, fomos ver um lago e um glacial. A Dani não estava 100% e acabou que voltamos para a guesthouse. Dormimos o restante do dia. No final do dia nossos amigos chegaram a nossa guesthouse e pudemos jantar juntos e eles nos contaram como foi o outro trajeto. Dani já estava bem melhor quando fomos dormir. Estamos confiantes para os próximos dias.
Vegetação: arbustos baixos e rochas
Manang para Leddar – 4200 metros
Acordamos super bem dispostos. Ainda deu tempo de um último tchau para nossos companheiros de caminhada (o Marteen e o Eugene) no café da manhã. Acordei um pouco ansioso com a caminhada no dia de hoje, sabia que iríamos subir bastante e iríamos dormir acima de 4 mil metros. Ao longo da caminhada, fui relaxando e vi que estávamos curados de nosso resfriado. Fizemos um ótimo ritmo de caminhada. Já estamos em altas altitudes, cruzamos por algumas pontes suspensas bem grandes o que deu para fazer fotos e vídeos de nós cruzando. Estamos onde planejamos e gostaríamos de estar. Caminhar no meio de montanhas que jamais conseguiríamos ver no Brasil é um sonho que conseguimos realizar. O visual de montanha nos atrai muito. Reencontramos os israelenses e seu pai. Fizemos o caminho todo na companhia deles. Chegamos em Leddar bem cedo, 13:30 já estávamos escolhendo a guesthouse que iríamos dormir. Só tem duas opções em Leddar. Aqui é um ponto decisório para as pessoas que se propõem a fazer está caminhada. A partir de 4000 metros os sintomas do mal de montanha já podem ser sentidos. Nós estamos bem. Aparentemente estamos curados de nosso resfriado. Almoçamos e fomos descansar. A temperatura caiu muito após o por do Sol. Pegamos temperaturas negativas durante a noite. Estamos indo dormir com todas as roupas quentes que temos e ainda usando os dois cobertores que temos no quarto. Nossa mochila de volta ao mundo não previa levar muita roupa de frio porque iríamos passar boa parte da viagem no verão ou em países quentes.
Vegetação: arbustos baixos e rochas
Leddar para High Camp – 4800 metros
Se você fizer a diferença dão somente 600 metros, né? Fácil, Léo. Pois é, fácil se o desnível for a menos de 4000 metros, meu amigo(a). O ar realmente começa a ficar difícil de chegar. É muito estranho. Meio que inexplicável como acontece do nada essa mudança. Viemos num ritmo ótimo desde o primeiro dia. Hoje o bicho pegou! Seria uma caminhada curta e foi, porém a pirambeira de quase 400 metros que subimos colocou nossa energia lá embaixo. Fizemos um ritmo até que bom a pirambeira para chegarmos no último lugar para dormir antes de chegar no Thorong La, aqui é o que eles chamam de High Camp. Seria lá que iríamos dormir e levantar as 03:00 da matina para cruzar. Fizemos um almoço rápido e logo fomos dormir. Lá pela 15:00, acordamos e ambos estávamos sentido dores na cabeça (eita! No good). A Dani estava com uma dor de cabeça bem mais forte. Fomos em busca do Suman e comentamos com ele. Ele nos trouxe o medicamento que ele jurava que era o melhor de todos. Ele nos deu um dente de alho cru para mastigarmos e engolirmos. Foi o remédio mais estranho que tomamos, enfim, tomamos e foi aquele cheiro de alho o resto do dia. Decidimos dar uma caminhada nos arredores do High Camp para ver se a dor de cabeça passava, e nada. A minha estava ficando um pouco melhor. O dia começou a ir embora e já estava de noite quando comecei a ficar um pouco preocupado. A Dani não melhorou, na real, piorou. Estava exausta e com um baita dor de cabeça na nuca, o que é um dos sinais do mal da montanha. Fomos descansar e ficar recolhidos em nosso quarto para ver se passava. Nada. Pedi para o Suman que nos desse o Diamox (o famoso remédio que combate o mal da montanha). Tomamos e fomos dormir. Lá pela hora da janta, pedi o jantar para o Suman e ele trouxe uma sopa para a Dani. Nada da Dani melhorar. Conversamos sobre o que ela estava sentido e tomamos uma decisão: iríamos ver como ela se comportava durante a noite, caso não melhorasse, teríamos que desistir de cruzar Thorong La. Teríamos duas opções: voltar o trajeto todo a pé até Manang e depois pegar alguma locomoção para voltar a Kathmandu ou chamar um helicóptero para resgatar a Dani caso ela realmente estivesse com os sintomas mais avançados, hipótese que descartamos por nosso seguro não cobrir esportes radicais e nem por ter U$ 2.000 para pagar pela HORA do helicóptero (hahaha), ou seja, sobrou a nossa única opção, desistir e voltar tudo. Comuniquei com o Suman a nossa ideia e que iríamos tomar a decisão de desistir ou não somente as 03:00 da matina quando teríamos o real estado de melhora da Dani. Confesso que essa noite não foi nada fácil. Eu melhorei 100% depois da janta. Mal dormi para ficar monitorando e ajudando a Dani e passei um frio lazarento.
Vegetação: desértica e neve
High Camp para Thorong La (Muktinath) – 5416 metros
Que noite horrível, mal dormi. As 03:00 da manhã fiz a pergunta: “E aí, como você está?”. A reposta foi em um tom muito triste, “não estou bem. Muita dor de cabeça.”. Pronto, já tínhamos a resposta, iríamos voltar a pé até Manang. Levantei e fui procurar o Suman para falar com ele a nossa decisão. Ele ficou muito desapontado, ele realmente queria ir partir com os outros guias e levar os seus clientes até o topo do Thorong La. Nós também. Os grupos de pessoas que iriam sair às 04:00 para começar a caminhada já estavam prontos, deu tempo até de reencontrar a família de Israel e desejar boa sorte para eles. Eles ficaram bem chateados que não iríamos juntos. Enfim, coisas da vida. Combinei o nosso café da manhã as 05:30 com Suman. Voltei descansar em nosso quarto e já pensando em nossa volta até Kathmandu. Encontramos o Suman para o café da manhã e eis que depois de terminarmos o café da manhã a Dani solta: “Gente, acho que estou melhor! Suman, vc também está com desconforto na sua cabeça? É normal sentir esse desconforto, né?”. O Suman balançou a cabeça positivamente. Pronto, como Fênix, a Dani estava pronta para subir até o topo. Yes! Ganhamos o animo que precisávamos. Mochilas prontas, roupas de frio devidamente colocadas e por precaução a Dani tomou mais um comprimido do Diamox. Saímos em direção ao passe. Caminhada lenta, fui seguindo o ritmo da Dani. Fomos sem pressa, e quando menos percebemos o Suman, que estava mais à frente, balançou os braços e percebemos que estávamos perto. Mais alguns passos e pronto, estávamos a 5.416 metros de altitude. Chegamos no maior passe de montanha do mundo, o Thorong La. Que emoção!. A Dani estava extremamente emocionada. Seus olhos encheram de lágrimas como que dizendo “Conseguimos! Que conquista.” Foi realmente emocionante chegar a uma altitude que jamais sonhávamos. O efeito da altitude até desapareceu de tão felizes que estávamos com a nossa conquista. O Suman estava muito feliz também. Algumas fotos, alguns vídeos do lugar. O céu estava tão azul que não acreditávamos no visual que estávamos vendo. Hora de continuar o caminho. Agora teríamos pela frente um grande declive para percorrer. E que declive! Levamos 4 horas para descer. Os joelhos foram bem usados (hahaha). Fim do dia, chegamos em Muktinath, uma vila bem pequena famosa por mesclar o budismo e o hinduísmo. Voltamos a uma altitude “normal”, estamos a 3.710 metros. Chegamos exaustos. Em nossa chegada, a família de Israelense, nossos companheiros de caminhada, festejaram a nossa chegada. Foi muito bacana revê-los. Fim de um longo dia. O dia que chegamos em uma altitude que jamais sonhávamos. Até tomamos uma cerveja Gorka no jantar para celebrar. 😉
Vegetação: desértica e neve
Muktinath para Jomson – 2743 metros
Depois de 3 noites mal dormidas, finalmente descansamos. Aproveitamos a internet da guesthouse para conectarmos com o mundo. Saímos um pouco mais tarde. As 08:00 começamos a caminhada até a vila de Jomson. Dei de presente o gorro que usei na minha caminhada para o Suman. Foi uma forma de agradecimento pelo excelente trabalho como guia. Começamos a caminhar e logo percebi meu calcanhar incomodando. Parei e estava com uma bolha daquelas, acho que a descida de ontem mostrou alguns resultados. Tentei de tudo, mas não parava o incômodo. Tive que andar mais devagar. O dia não estava muito favorável para mim. Durante o trajeto caminhamos pelo meio de um rio que secou. Foi uma caminhada bem sem atrativos, acho que já estava com a cabeça de fim do trekking. O vento pegou pesado conosco hoje. Ventava muito e levantava uma poeira braba. Tivemos que usar os óculos escuros e até usar panos na boca para proteger. O visual é bem diferente do que vimos, o que fez esse trecho um pouco interessante. Chegamos em Jomson. Meu pé ardia no calcanhar. Chegamos no guesthouse e fomos tomar um banho para tirar a poeira de tudo (hahaha). Fim do nosso trekking. E que trekking! Realmente foi uma das caminhadas que gostaríamos de ter feito e conseguimos. Estamos realizados.
Jomson para Tatopani – 1563 metros
De Jomson pegamos um ônibus até Tatopani. As distâncias são curtas, mas pelas condições das estradas nessa região levam horas. Saímos cedo e logo vimos que o dia seria longo. O ônibus no Nepal são pequenos e o lugar para sentar é apertado, dependendo da sua altura. E foi aquele chacoalho. Cada buraco o pessoal do ônibus dava aqueles pulos que era até engraçado de ver. E assim fomos até chegarmos em Tatopani. A vila de Tatopani é pequena e famosa por ter uma piscina de água termal. Como chegamos com tempo, fomos passar um tempo na piscina, descansando o corpo. Lembra dos nosso amigos israelenses? Então, tínhamos nos despedidos em Jomson e sem combinarmos eles se hospedaram novamente no mesmo guesthouse que nós. Ficamos surpresos, já que pensávamos que não iríamos vê-los novamente. Jantamos juntos e ficamos falando sobre o circuito que acabávamos de terminar. Hora de descansar. No dia seguinte seria mais um dia de deslocamento até Pokara.
Tatopani para Pokara – 827 metros
Era para sairmos cedo. Era. Acordamos cedo e nosso ônibus deveria sair às 07:30. Nosso ônibus saiu às 09:30 depois de muita negociação entre os nossos guias e os motoristas de ônibus de Tatopani. Ficamos esperando o Suman dizer para nós quando iríamos. Aconteceu que o ônibus das 07:30 já estava cheio e os guias estavam negociando outro ônibus. Nesse intervalo acabou que encontramos os israelenses novamente (hahaha), desse vez demos risadas, já que estávamos em nossa 2a despedida onde achávamos que não os veríamos mais. Acabou que conversamos mais com eles. A essa altura já estávamos bem íntimos deles que conversávamos sobre as famílias, sobre viagens e como era viver em Israel. Negociação feita, chegou o nosso ônibus. Embarcamos todos, nós e os israelenses no mesmo ônibus com mais outros turistas. A estrada continuou do mesmo jeito. Sacudiu bastante de novo. Paramos em uma cidade no meio do caminho para almoçar e trocar de ônibus. A cidade estava uma bagunça. A crise da gasolina ainda afetava o Nepal fazendo com que o Suman e o guia dos israelenses tivessem que negociar mais um transporte nesse intervalo. Conseguimos uma minivan para nos levar até Pokara, o Suman mais uma vez “salvou” nosso dia. Agora era só asfalto até Pokara. Chegamos no fim do dia a cidade e ficamos em nosso último hotel. Pokara é famosa por ser um hub para outras trilhas por perto como Poon Hill e Annapurna Basecamp. É famosa por um lago bem no meio da cidade e o por do sol ali é bem legal. Fomos ver o lago e aproveitamos para tomar uma cerveja, comer uma pipoca (fazia parte do combo cerveja + pipoca) e aproveitar o nosso último por do sol de nossa caminhada. No dia seguinte, pegamos o primeiro ônibus para Kathmandu. Foi uma viagem longa e demorada. A crise da gasolina estava no auge.
Kathmandu – parte 2
Nossos planos eram fazer 15 dias de caminhada e 15 dias de voluntariado bem como a entrega do dinheiro arrecadado em nossa campanha de crowdfunding. Assim como planos são hipotéticos o nosso precisou mudar por força maior. Justamente nessa nossa volta para Kathmandu encontramos duas dificuldades: o Nepal ainda estava com a crise da gasolina e o Nepal acabára de entrar no maior feriado nacional logo não conseguíamos nos locomover para fora de Kathmandu onde iríamos fazer o nosso voluntariado na cidade de Gorka bem como não teríamos como fazer voluntariado em uma escola, já que os alunos ficariam quinze dias em casa. Ou seja, hora de adaptar os planos. Decidimos ficar em Kathmandu e com a ajuda do Takur conseguimos aplicar de uma maneira muito bacana todo o dinheiro arrecadado. No Brasil somos professores e a educação é algo muito representativo para nós. Pensamos com o Takur como poderíamos ajudar alguma instituição de ensino e ele nos conectou com um amigo, o Devi, que nos apresentou 3 escolas que poderiam se beneficiar. Decidimos comprar material escolar e doar para essas instituições. Dito e feito, em um dia, saímos com o Takur, Devi e fomos às compras. Compramos tanto material escolar com os U$ 600 que conseguimos comprar material escolar para uma instituição de cegos e outras duas escolas. Para vocês terem uma noção, com esse valor foi possível comprar material para aproximadamente 6 meses de uso. A alegria da Dani em especial de poder comprar e doar todo aquele material estava estampada em seu rosto. Nesse mesmo dia fomos fazer a distribuição na instituição de cegos e em uma das escolas. A outra escola, o Devi iria entregar após o feriado. Foi um dia muito especial. Sentimento de troca imenso. Entregar todo aquele material escolar estava sendo uma maneira de agradecer a todos os que nos ajudaram nesse projeto e em nossa viagem como um todo. O resto dos dias ficamos em Kathmandu fazendo turismo na cidade, enviando postais, planejando o nosso próximo país (Índia). Reencontramos o Dilmar, que tinha voltado de sua caminhada até o acampamento base do Everest. Ele estava extremamente feliz e realizado por ter conseguido realizar a caminhada. Ficou tão empolgado que quis deixar um registro, fez uma tatuagem muito bonita sobre a sua caminhada. Nesse período visitamos o templo dos macacos no topo de um morro em Kathmandu, passeamos pela Durbar Square e visitamos o templo Hindu de Pashupatinath, local sagrado para os hindus aqui no Nepal bem como local onde eles fazem as cerimônias de cremação dos mortos à beira do rio. Era hora de seguir em frente, decidimos aproveitar que iríamos para a fronteira da Índia no Centro-Sul do Nepal e visitamos uma das cidades sagradas para o budismo, fomos a Lumbini.
Lumbini
Lumbini é conhecida por ser a cidade onde Buda nasceu. Muitos budistas fazem um turismo religioso baseado nas 3 principais cidades, Lumbini (onde Buda nasceu), Kushinagar (onde Buda morreu) e Bodygaya (onde Buda atingiu a iluminação). Dessas três cidades, apenas Lumbini fica no Nepal, as outras duas ficam na Índia. Saímos de Kathmandu bem cedo, logo fomos para a rodoviária. Já estávamos com o nossos tickets comprados, foi a nossa salvação, com a crise da gasolina a rodoviária estava uma bagunça. Gente para tudo quanto é lado. Iríamos cruzar quase o Nepal todo e sabíamos que iríamos levar o dia todo para essa tarefa. E foi aquela viagem, naquele busão pequeno com o assento para pessoas que têm a perna pequena. Aqui no Nepal a estatura em geral é baixa. Chegamos no fim do dia e ainda tivemos que procurar algum lugar para dormirmos. Achamos um hotel muito simples, mas era o que precisávamos. No dia seguinte, acordamos cedo e fomos a Lumbini. O lugar onde Buda nasceu é um grande complexo em homenagem a Lord Buda. Nele várias países budistas doaram e construíram espaços para celebrar Buda. Lá as excursões visitam, fazem suas oferendas, tiram fotos e fazem orações. É um lugar bem tranquilo. Aproveitamos para descansar embaixo da árvore também. No meio dia decidimos partir para a Índia. Cidades de fronteiras são sempre uma incógnita, mas geralmente são bem sujas e sem muita opção do que fazer. E se tratando de uma fronteira com a Índia, você já deve imaginar o que viria pela frente, mas esse relato eu deixo para o próximo post, o da Índia 😉
Fim de nossa passagem pelo Nepal. Certamente foi um país que sofreu uma grande tragédia mas que continua lutando para manter o espírito alegre de seu povo. O Nepal é um país que voltaremos, com certeza. Voltaremos para fazer mais caminhadas. Voltaremos para rever esse povo sensacional. Voltaremos para respirar o ar puro dos Himalaias. O Nepal é natureza e povo convivendo em respeito mútuo as suas montanhas. Cara, o Nepal é foda.
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