Marrocos
A sensação de pisar novamente na África. Pedalar na África. Sentir a África. Mas essa seria uma África diferente da que vivenciamos em 2015. Seria uma África misturada, predominantemente muçulmana, com colonização européia recente e de uma natureza diferente. Voltar para a África já nos animou desde o dia 1 da nossa viagem de bicicleta. A pluralidade da África nos fascina e foi por isso que decidimos pedalar por lá, além de precisarmos nos ausentar por 3 meses da zona Schengen e para fugirmos do frio do inverno Europeu. A primeira etapa de nossa viagem de bicicleta durou exatos 3 meses e percorremos 5 países: Holanda, Bélgica, França, Espanha e Portugal). Chegou o momento de pedalar pelo Marrocos.
Tanger
Nossa saída da Europa as pressas foi algo que realmente não planejávamos. Fomos surpreendidos com um furto de nossa carteira em um supermercado em Sevilla e tivemos que adiantar nossa ida para o Marrocos. O prejuízo foi mediano (os nossos cartões de créditos e 100 euros). Como tínhamos uma reserva em dinheiro e achávamos que os cartões reservas da Dani estavam conosco (sem querer despachamos eles para o Brasil), aceleramos nossa ida para o Marrocos (relato completo da Espanha aqui). Decidimos por entrar pelo Marrocos pela cidade de Tanger. Tanger seria nossa base por quase 1 semana pois teríamos que aguardar os cartões novos chegarem do Brasil. Enviamos eles via DHL que tinha uma oficina na cidade de Tanger (foi a nossa salvação). Compramos as passagens do ferry-boat que nos levaria para Tanger na cidade Algeciras. Comprar a passagem no porto da cidade já começávamos a ter uma noção do que nos aguardava do outro lado do Mar Mediterrâneo. A cidade de Algeciras é uma das que tem ferry-boats saindo para o Marrocos. Nós decidimos por essa cidade pois foi a que conseguimos um trem direto desde Sevilla (Dos Hermanas). Compramos as passagens todas pela internet e só precisamos ir retirar o voucher 1 dia antes do nosso embarque. Saímos de Algeciras no fim do dia, embarcamos com as bicicletas na parte de baixo do ferry-boat junto com os carros. Foi muito estranho entrar em um barco depois de tanto tempo pedalando. Deixamos as bicicletas amarradas e subimos para a área de passageiros para curtir a viagem. Em um momento, próximo a nossa chegada puxei o aplicativo Maps.Me para ver onde estávamos indo e para a nossa surpresa não estávamos indo para a cidade de Tanger. Gelei a espinha. Olhei para a Dani e comentei, fodeu. Na pressa de comprar as passagens e toda a situação que estávamos não me atentei ao seguinte detalhe: existem 2 portos com o nome Tanger, um chamado Tanger e outro chamado Tanger Med, que fica a 50km da cidade de Tanger. Agora adivinha para onde compramos as passagens? Para Tanger Med, claro. Já tínhamos começado bem nossa etapa africana (com emoção logo na chegada). Assim que atracamos fomos até a parte de baixo pegar as bicicletas e saindo para o cais para chegar até o ônibus que nos levaria ao processo migratório fomos surpreendidos com um vento de boas-vindas que deu para arregalar os olhos. Ventava muito. Chegamos para pegar o ônibus e já tivemos nosso primeiro processo do dia, entrar em um ônibus com 2 bicicletas cheias de alforges. Por sorte, era um ônibus daqueles que leva passageiros de um terminal até outro nos aeroportos, o que ajudou bastante. Bikes no ônibus fomos para a sala de imigração. Como estávamos com os alforges, tivemos que desmontar a bike toda e colocar todos os alforges na esteira para passar no raio-x, dá um trabalho, viu? Raio-x feito, montamos novamente a bicicletas para sair para rodovia que nos levaria para a Tanger. Na minha cabeça daria para pedalar (daria), até tentamos ir para a rodovia para começar a pedalar e nos alojarmos na primeira cidade que encontrássemos mas não deu, o vento estava muito forte. Desistimos e voltamos para o terminal negociar um taxi. Já sabendo que eles iriam tentar colocar um valor absurdo, perguntei antecipadamente para um local quanto custaria uma viagem até Tanger. Com o valor em mãos, fui até os taxistas negociar. Foi uma negociação dura (rs), apelei para tudo, contei todas as histórias possíveis e consegui convencer um taxista a nos levar por um preço justo. Agora tínhamos o desafio de colocar 2 bicicletas mais todos os alforges dentro de um taxi, sem desmontar as bikes (hahahaha). Nisso já estava começando a anoitecer e a Dani estava começando a ficar bem irritada com toda a situação, foi um dos momentos mais estressantes da viagem (confesso). Ufa, bikes instaladas, partimos rumo a Tanger, já tínhamos um Airbnb alocado e o dono do apartamento já estava nos esperando fazia um bom tempo. Ao longo do trajeto pudemos ver um pouco do Marrocos. Já passavam das 22:00 quando conseguimos sentar no sofá do apartamento e “relaxar”. Os dias que antecederam nossa chegada ao Marrocos não ajudaram muito. Instalados em Tanger, ficamos em um apartamento muito bem localizado. Ficamos 10 dias na cidade e aproveitamos para “descansar” e planejar nossa rota no Marrocos. O casal de Suíços, o Daniel e a Vanessa também estavam em Tanger (conhecemos eles em Portugal e mantivemos contato desde então). Combinamos de jantarmos juntos no nosso apartamento e fizemos comida e eles nos surpreenderam com um vinho (não pergunte como eles encontraram no Marrocos!). Foi legal revê-los. Aproveitamos que eles iriam ficar alguns dias em Tanger e combinamos de conhecer a parte histórica da cidade e a Medina (cidade antiga). Muito legal caminhar pela Medina, começar a entender como são os costumes e hábitos do marroquino. Em um desses passeios, tomamos nosso primeiro de muitos chás com folha de menta com bastante açúcar, uma tradição. Eles fazem questão de servir fazendo um certo show, subindo o bule com o chá lá no alto e servindo no copo para fazer bastante espuma. Adoramos o chá marroquino. Já estávamos em nossa metade da estadia na cidade e recebemos a indicação que nossos cartões tinham chegado na oficina da DHL (ufa, que alívio). Em outro dia, fomos a Decathlon de Tanger buscar um gás para nosso fogão e comprar um par de luvas para a Dani (iriamos pegar temperaturas baixas nas montanhas). A Decathlon acabou sendo uma excelente opção para nossa reposição de equipamentos em geral e proteína em pó (tomamos proteína em pó quase todos os dias logo após o fim do pedal para mantermos os níveis nutricionais e manter os músculos fortes). Fim de nossa estadia em Tanger, era hora de começar a conhecer o Marrocos. Montar os alforges novamente, revisar a bicicleta e começar a pedalar, já estávamos com saudades.
Tetouan
Subir nas bicicletas novamente depois de mais de 10 dias foi um mix de sensações. O guidão tremia, as pernas tremiam e o coração estava acelerado. Estávamos na África e iríamos pedalar em suas terras. Logo que saímos de Tetouan tivemos que pegar uma rodovia com via de mão-dupla o que é interessante para pedalar pois a faixa de acostamento é grande. Estava um dia bonito de Sol e ficou o dia todo nessa rodovia. Em um momento conseguimos nos encontrar no meio da estrada com um casal de brasileiros que vínhamos conversando e deu super certo de nos encontrarmos. Eles estavam viajando o Marrocos com um carro alugado e trocamos algumas informações sobre o como foi a experiência deles. Seguimos com o nosso pedal e já começamos a ter uma impressão de como seria o ritmo de pedal por esse novo país. Depois de um dia nas planícies Marroquinas (perto do mar) começamos a subir sentido a cidade Tetouan. Pegamos a estrada principal de acesso a cidade e chegamos já no fim do dia. Já fomos atrás de um lugar para nos hospedar e fomos em direção a Mediana da cidade. Lá já fomos abordados por um cara que nos avistou de longe e já sabendo da nossa necessidade “nos ajudou” a encontrar um lugar para dormir. Como já estamos espertos com essas abordagens, fomos com ele porém sempre atentos a possíveis golpes. É comum esse tipo de abordagem por aqui. Chegamos no riad que o figura tinha encontrado para nós e foi bem engraçado a cena. O dono do riad/ hospedaria estava chapado de haxixe (sim, você leu correto, chapado). Comecei a negociar e chegamos em um valor justo para a noite. O dono até nos ofereceu um chá marroquino e haxixe para negociarmos, negamos o haxixe mas não negamos um cházinho, não era o momento para ficar chapado (se é que me entendem). O riad era bem simples mas mantinha a arquitetura clássica, 3 andares, quartos ao redor e um vão central. Já estava noite e decidimos caminhar e jantar pela medina. Fomos caminhando pelas suas ruelas para justamente sentir os cheiros das especiarias, ver as frutas, as lojas de comida e chá. Ficamos maravilhados e fui tirando fotos para registar. Estávamos um pouco ressabiados depois da abordagem que estávamos com a “guarda alta” ainda. Precisávamos começar a entender que estávamos na África e que a levada é outra. Em um momento nos perdemos e ficamos um pouco preocupados, se perder em uma Medina é algo bem comum de acontecer se você não conhece onde está indo. Demos uma bela volta pelas suas ruelas até nos acharmos (ufa). Aliviados decidimos jantar numa região mais central porém perto da Medina. Fim do dia, estávamos cansados e no dia seguinte iríamos sentido a Chefchaouen.
Chefchaouen
Saímos de Tetouan cedo, decidimos tomar café na saída da Medina em um café. Início de dia, e pegamos a estrada (N2) que nos levaria a Chefchaouen. Por ser uma estrada secundária (mão única), iríamos dividir o asfalto com os carros e caminhões. Colocamos nossos coletes de sinalização (que ganhamos de meu irmão) para aumentar a nossa segurança. Usamos esses coletes refletivos por quase todo o Marrocos. Com o dia já estava na metade, e a Dani já estava se queixando de estar cansada. Comecei a me preocupar um pouco, porém entendia que estávamos voltando a pedalar depois de 10 dias parados e descobrimos que essas pausas muito longas não são nada interessante para o nosso físico. Viemos subindo literalmente o dia todo (aqui não tínhamos muito o que fazer em termos de rota). Já eram umas 16:00 da tarde e chegamos no km 40 do dia e ainda faltavam 20 e poucos até chegarmos em Chefchaouen, a Dani não conseguia mais pedalar, estava exausta. Decidimos tentar uma carona, nada. Estávamos preocupados onde iríamos dormir e já estávamos com a cabeça feita, iríamos pedir para acampar em um quintal de alguma casa na vila que estávamos. Não tínhamos opção. Batemos em uma casa e por gestos tentamos explicar o que queríamos, a mulher que nos atendeu comentou que teria que chamar o marido para decidir. Um tempo depois o marido chegou e nos deu uma negativa, eles estavam bastante desconfiados. Ficamos arrasados e começamos a nos preocupar de verdade. Sentamos na beira da estrada na frente da casa e ficamos lá, perplexos com a situação e tentando explorar nossas possibilidades. Algumas caronas negadas novamente eis que nosso amigo que havia negado de dormirmos no seu quintal cedeu e abriu sua casa para dormirmos, acho que eles pensaram melhor e viram que nada aconteceria. Nosso humor mudou na hora. Agradecemos muito a quem havia mudado a ideia do nosso amigo (a Dani sempre comenta que os anjos dela são potentes e ajudam nós). Nosso amigo não só nos acolheu como também cedeu um quarto para dormirmos. No final do dia suas filhas tinham regressado da escola e ficaram encantadas em poder conversar com a Dani. É muito comum os filhos terem um inglês, nem que básico, o que possibilita uma troca mais rica. Foi o que aconteceu, nosso amigo e sua família nos receberam, trocamos informações, curiosidades e até jantamos com eles. Já estávamos no Outono e o frio chegou forte. Nesse dia relembramos nossos banhos de caneca quando ainda tinha sol para nos mantermos quentes. Nos despedimos de nossos anfitriões e fomos dormir. Acordamos, o frio ainda estava presente. Tomamos um chá só para nos aquecermos e já saímos em direção a nosso destino. Nos despedimos da família e relembramos que hospitalidade é uma questão de valor, e reafirmamos que as pessoas tem um papel importantíssimo em um sabático. Começamos descendo até a vila mais próxima e paramos para um café da manhã mais reforçado. Adoramos tomar um café quente e comer um pão, dá uma sensação de começo do dia. O dia estava nublado e fazia frio. Colocamos anorak para nos protegermos do vento frio. Já tínhamos visto que o último quilômetro seria de uma inclinação absurda. Nos preparamos e fomos bem devagar para não nos machucarmos até chegarmos até Chefchaouen. Ufa, chegamos em nosso destino final, a famosa cidade azul. Logo que chegamos na medina da cidade, deixei a Dani cuidando das bicicletas e fui a pé buscar uma hospedagem para nós. Dei bastante sorte e achei uma hospedagem com um preço bom. Voltei para buscar a Dani e as bicicletas e entramos na medina empurrando as bikes até nossa hospedagem. Instalados, tomamos um banho e fomos dormir (sim, estávamos exaustos e iríamos ficar mais de um dia lá). Já no fim do dia, depois de estarmos bem descansados fomos dar uma passeada nas ruelas da medina, gostamos do que vimos e gostamos também do restaurante que encontramos (bom, bonito e barato). Os dias em Chefchaouen foram bem relaxados. Nos demos um descanso e aproveitamos para turistar um pouco. A cidade é muito bonita e com os tons de azuis pintados nos muros das casas dá um ar de literalmente estarmos no céu. Fizeram dias muito bonitos e de sol.
Ouezzane
Chegou a hora de nos movermos, voltar para a estrada e irmos em sentido a Ouezzane. Já nos antecipamos e vimos que o trajeto seria na sua grande maioria descida até nosso próximo destino, a cidade de Ouezzane. No trajeto fomos passando por pequenas vilas e seus restaurantes e mercados de beira de estrada. Fizemos nossa primeira pausa do dia para um café e descobri que estávamos em uma região de muita produção de haxixe, até me ofereceram se não gostaria de comprar um pouco (tenho muita cara de quem fuma um?), não comprei pois não gosto de correr riscos em um país em que sou estrangeiro e sei que haxixe é ilegal no Marrocos. Estava um dia muito bonito de sol e aquele vento frio de Outono. No meio do caminho passamos por algumas fabriquetas de azeite de oliva, com seus maquinários rudimentares em que para moer a oliva usam burros que giram em torno de uma pedra que espreme o óleo da oliva, voltamos no tempo. E o cheiro de azeite de oliva no caminho? Algo incrível para um pedal, super sensorial a experiência de pedalar sentido esse cheiro. Não conseguimos comprar pois já estávamos com um azeite em nossos alforjes que compramos em um supermercado, mas confesso que bateu um arrependimento de não termos comprado esse azeite. Fomos evoluindo o pedal do dia e chegamos em Ouezzane. Chegamos no fim do dia, fizemos 70km hoje. Assim que saímos da estrada principal, entramos na cidade já encontramos um hotel que serviria para nós. Negociei o valor e nos instalamos. Era um hotel super simples, porém organizado. Nesse mesmo dia fomos jantar e não encontramos muitas opções perto, e recebemos uma indicação do pessoal que na estrada encontraríamos restaurantes bons. Fomos na beira da estrada e atualizamos as nossas definições de bons restaurantes. O lugar menos pior que escolhemos para comer era o único que tinha “toalha de mesa de plástico” e o que menos mosca tinha sobrevoando o lugar. Não foi uma decisão fácil (rs). Quando nos deparamos com uma situação, sempre vamos no prato “play safe” do lugar. Pedimos o menu mas estava todo em árabe, o que não ajudou. Partimos para o famoso apontar o dedo para a foto que estivesse no menu (a Dani sempre acha que foram os donos do restaurante que tiraram aquela foto, nunca acha que é uma foto genérica da internet, tadinha). Deu certo, chegou um hambúrguer para mim com batata-frita e para a Dani uma sopa até que razoável. Comemos por fome mesmo. Voltamos para o hotel e aproveitamos o dia seguinte para conhecer a cidade. Tínhamos uma rotina de acordar e ir tomar um café da manhã em um restaurante e passear pela cidade. Ouezzane não é uma cidade famosa aqui no Marrocos, mas para nossa viagem ela ficou bem famosa. Fim de nossa estadia, montamos nossas bicicletas com os alforjes, nos despedimos do pessoal do hotel e lá fomos nós. A Dani saiu antes e assim que chegou na esquina do hotel precisou parar pois um carro estava entrando na rua do hotel e esqueceu que precisava colocar o pé no chão (acontece) e aí que Ouezzane ficou famosa para nós. Com esse esquecimento, a Dani colocou o pé muito tarde no chão e quando o pé tocou o chão ele absorveu uma bicicleta de 40kg (argh) o que fez com que desse uma bela torção no tornozelo. Com o grito dela e vendo a cena toda, larguei a bicicleta e fui ao seu encontro, junto com todos os funcionários do hotel. Viramos o evento do dia. Dani sentia bastante dor e logo já foi carregada pelo pessoal do hotel para nosso quarto de novo. Fui levar as bicicletas para o depósito e nesse meio tempo o pessoal do hotel já agilizou uma ambulância (hahaha, sim, demos um rolê em uma ambulância marroquina). Dani estava preocupada com algo pior, e quando chegamos no hospital logo fizemos uma radiografia e vimos que foi só uma torção (ufa, ficamos mais aliviados). Nesse intervalo de tempo, precisei acionar o seguro viagem (olha as decisões inteligentes que tomamos em tempo de planejamento) e fomos orientados que comprássemos os remédios que seriamos reembolsados. Fiquei surpreso com a agilidade da empresa de seguro. Bom, corta para a nossa rotina que aconteceu nos próximos dias: acordar, comprar café da manhã para a Dani, gelo, remédio, almoço, gelo, Netflix e jantar. Ficamos mais 5 dias na cidade nessa rotina até conseguirmos arrumar um airbnb na cidade mais próxima e que tivesse uma infraestrutura melhor para a recuperação da Dani. Meknes seria nossa próxima cidade e lá iríamos recuperar o pé da Dani e ficarmos prontos para a continuidade da viagem.
Meknes
Chegamos em Meknes em uma van/ taxi que consegui negociar para nos levar até a cidade em Ouezzane. A van veio lotada, com nossos alforjes, bikes atravessadas, Dani e eu. Em Meknes alugamos um Airbnb (aqui é um bom negócio alugar Airbnb) pois precisávamos esperar a Dani se recuperar completamente e eu precisaria parar para trabalhar com um projeto de um cliente (te falei que durante essa viagem eu trabalhei de maneira remota?). Nossos dias em Meknes eram rodeados de rotina: acordávamos, íamos comprar pão fresco nas padarias do bairro, um croassaint com chocolate, voltamos para nossa casa, a Dani lia algo sobre o Marrocos ou se atualizava com as notícias do mundo e eu trabalhava no meu projeto do meu cliente. Em um momento até conseguimos gravar nosso primeiro capítulo de podcast que participamos com os queridos do Pedarllhos. Os dias passaram rápidos em Meknes, a rotina de trabalhar um pouco acabou ofuscando um pouco conhecer a cidade. Um dia decidi ir conhecer a cidade sozinho. Levei minha máquina de fotografia e me perdi vagando pela cidade. Entrei na medina da cidade e fui caminhando pelas ruelas, em um momento me deparei com um dos grandes pórticos que delimitam a medina, muito bonito. Segui minha caminhada e visitei o mercado principal da cidade. Entrei dentro do mercado e só fui me perdendo por dentro dele, sentindo os cheiros, vendo bois inteiros sendo cortado em partes. O passeio renderam boas fotos. Voltei para nosso airbnb e continuamos nossa rotina. Com a recuperação da Dani, ficou muito mais fácil sairmos e caminharmos pelo bairro e pela cidade. Voltamos para a medina para que a Dani pudesse conhecer também. Dani ficou encantada com as tagineiras (a “panela” que cozinha o tagine, prato típico do marrocos e berbere). Dani estava 100% recuperada, meu projeto já havia sido entregue, era hora de voltar a estrada. Dessa vez fizemos diferente, decidimos fazer um primeiro dia mais curto para não sentirmos muito. Toda a vez que ficamos um longo tempo parado, o corpo sente e sente bastante. Carregar quilos de equipamentos, roupas, comida, etc. só com as pernas tem seu impacto. Por isso, decidimos fazer um percurso menor, saímos de Meknes cedo e fomos sentido a cidade de Ifrane.
Ifrane
Com o nosso retorno a estrada, percebemos que estávamos fora de forma. A pausa por muito tempo cobrou no pedal. Foi necessário e obrigatória a nossa pausa, Dani precisava se recuperar bem para encararmos a 1a cadeia de montanhas que estava por vir, o Atlas. Demoramos um pouco para sair de Meknes, pegamos um caminho dentro da cidade cheio de subidas e descidas o que já complicou um pouco. Seguimos o dia e lá perto dos 30km a Dani não estava bem e decidimos parar o pedal do dia na próxima cidade. Chegamos em El Hajeb, uma cidade pequena que ficava em nosso caminho até Ifrane. Para chegar na cidade, tivemos que subir e aí o corpo sentiu. Chegamos exausto na cidade e fomos procurar hospedagem. Por alguma razão todos os hotéis da cidade estavam lotados, estava acontecendo alguma festividade o que deu um pouco mais trabalho para nós acharmos algum lugar para ficar. Entramos em bastantes pousadas, hotéis e uns moquifos que eita vida. Decidimos ir ver se existia um camping que eu tinha visto no mapa. Chegamos no suposto “camping” e tentamos de algum modo ficar por ali, mas mais tarde descobrimos que não era um camping propriamente. Era uma espécie de clube de campo de uma associação, aqui no Marrocos os campings são raros. Já estava começando a ficar tarde e ficamos preocupados de não estar achando um lugar para ficar e atiramos nossa última cartada, um hotel do outro lado da rua do suposto camping. Foi a gota d’ agua, tivemos que engolir seco os 40 euros para dormir (a noite mais cara da viagem toda). Doeu pagar tudo aquilo. E para piorar, o frio já começava a ficar mais intenso e mesmo pagando essa facada, o banho estava frio. Fiquei muito puto com toda a situação. Engoli o choro e fomos dormir, pelo menos estávamos em um lugar protegido. No dia seguinte, acordamos cedo novamente para irmos num ritmo mais devagar, teríamos uma longa subida o dia todo praticamente. O caminho até chegar Ifrane passa pelo parque nacional Ifrane, um parque belíssimo, com seus pinheiros grandes e cedros libaneses (aquele da bandeira do Líbano). A estrada de acesso é bem bonita. De novo, levamos o dia todo para chegar em Ifrane (eles chamam de “Suíça Marroquina”, eu odeio essas comparações), que é conhecida como uma cidade de montanha, com resort de ski e tudo. A cidade se destaca frente ao restante das outras cidades da região, mais organizada e com uma infra-estrutura para receber turistas locais também. De um Google e veja algumas fotos da cidade no inverno. Logo que chegamos na cidade, fomos direto para o “camping” que estava no mapa, de novo, o camping não estava aberto. Foi aí que percebemos que os campings (aqueles que eram de fato) estavam fechando pois estava começando o inverno e eles fechavam de vez. Tivemos que voltar para a cidade e começar a procurar um lugar para ficar. Fomos direto para um hotel que parecia que dava para pagar, mas mesmo estando no começo da temporada para eles (Ifrane é conhecida pelo inverno e suas estação de ski em pleno Marrocos, doido como a gente cria mundos sobre os países e encontrar o imaginável as vezes). Eu jamais imaginava que tinha estação de ski no Marrocos. Bom, nosso primeira tentativa não tinha dado certo, o hotel estava caro para nosso bolso. Tentei negociar um valor mais baixo, mas o pessoal do hotel não estava muito amigável nesse sentido. Logo que voltei com a negativa para a Dani um dos funcionários do hotel percebeu que estávamos em busca de algum lugar e nos indicou um terreno na frente do hotel, do outro lado da rua. Fomos olhar e ficamos meio ressabiados, decidimos seguir nosso caminho. Logo que entramos numa rua, um outro homem se aproximou de nós e apontou para dentro de uma espécie de “condomínio” que tinham algumas casas e moradores. Ele comentou que poderíamos montar nossa barraca dentro do terreno de uma das casas (a que ele era uma espécie de guardião). Como já estava começando a ficar tarde e frio, não pensamos de novo e fomos montar nosso acampamento. Ficamos acampados na parte de trás da casa, protegidos do vento, dos vizinhos e de quem quisesse nos perturbar, por alguma razão. Jantamos um macarrão rápido, e fomos dormir, foi um dia puxado e o banho seria pulado (rs). Quando você faz camping selvagem (ou seja, sem a infraestrutura de um camping propriamente dito) o tempo de tomar banho é poupado e quando percebe já está na barraca dormindo, claro, nesses dias o lenço umedecido era nosso parceiro.
Azrou
Amanheceu um dia lindo, totalmente diferente do que chegamos. Sol, céu azul e aquele frio típico de Outono/ Inverno. Desmontamos nosso acampamento e fomos lá para o centro da cidade. Como seria um dia curto e economizamos com a hospedagem na noite anterior, nos demos um belo café da manhã com direito a café quente, pão quentinho e tudo o que os restaurantes da região ofereciam. Ficamos um bom tempo aproveitando o sol nos aquecendo, batendo papo sobre os últimos dias e observando aos arredores da cidade. Já estávamos precisando nos mexer, e começamos o pedal do dia, nosso destino final seria a cidade de Azrou. Foram somente 15km pedalados para chegarmos em nosso destino final, paramos no primeiro camping que avistamos logo na entrada da cidade, e por um milagre, ele estava aberto! O camping não ficava na cidade de Azrou, ficava afastado uns 5km. Nos instalamos, o camping estava super vazio e como chegamos cedo, aproveitamos para descansar durante o dia. Aproveitei para fazer uma manutenção nas bicicletas, nos equipamentos de camping e nas roupas. Como já estamos no Outono/ Inverno, os dias estão ficando mais curtos e la pelas 16:30/ 17:00 já está começando a ficar escuro. Fomos visitar Azrou, pegamos as bicicletas e fomos pedalando até a cidade. A cidade não era muito grande, típica cidade marroquina, com suas mesquitas, mercados e os restaurantes e cafés nos arredores da praça principal. Paramos em um restaurante que nos agradou pelo cheiro. Pedimos um tagine e estava muito bom. A combinação do tagine com um pão marroquino é sensacional. Aproveitamos que estávamos na cidade para nos abastecer com comida. Voltamos para o camping e foi o tempo de tomar um banho quente, fazer uma janta e dormir. No dia seguinte prometia, iríamos começar o dia com um subida daquelas que deveria consumir um bom tempo do nosso dia.
Timahdte
Acordamos com aquele frio batendo na porta da barraca, e a preguiça de trocar de roupa (tirar o pijama e colocar a roupa gelada de pedalar?). Tomamos nosso café da manhã, desmontamos o acampamento e logo partimos para o nosso destino do dia, a vila de Timahdte. Eu já tinha olhado no meu aplicativo que mostra as elevações do terreno e teríamos um paredão para encarar logo de cara. A subida na saída de Azrou deu logo o bom dia na nossas pernas. Um inclinação bem forte porém com um zig-zag clássico que ajuda a dar uma aliviada na subida. Começamos o dia cortando uma reserva ecológica com muitos cedros (aqui neva no inverno) e curiosamente vivem muitos macacos nessa floresta. Ao longo da subida eles foram aparecendo em maiores números e no momento mais próximo da final da subida paramos em uma parte bem turística (as vans que levam os turistas param nesse lugar para alimentar os macacos). Ficamos ali observando o comportamento dos macacos e dos humanos (rs). Pegamos um fôlego e seguimos nosso pedal do dia. Como sabíamos que a subida iria exigir bastante decidimos não pedalar até Midelt (nossa cidade destino) e paramos na micro-vila de Timahdte. Micro pois era uma vila que ficava ao longo da rodovia, com seu comércio em ambos os lados, banco e restaurantes. Ficamos no único hotel disponível na vila, foi nossa salvação que ele ainda estava aberto. Era um hotel bem diferente, uma casa construída em madeira, em um formato de casa de montanha, nos chamou a atenção pois se destacava da arquitetura tradicional marroquina que estávamos vendo. Como chegamos relativamente cedo, deu tempo de nos acomodarmos no hotel, tomar um banho, colocar uma roupa quente e ir para o centrinho da vila procurar algo para jantar. Escolhemos um restaurante na beira da rodovia e fomos direto no tagine. Uma estratégia dos restaurantes aqui é preparar os tagines fora do restaurante para que a gente possa ver e sentir o cheiro maravilhoso e claro, pedir um para comer. Jantamos um tagine e estava muito bom. Aproveitamos nossa ida a esse centrinho e sacamos um dinheiro e comprarmos algumas coisas para levar. Voltamos ao hotel e fomos dormir, estava ficando bem frio e estávamos cansados. O dia foi muito legal.
Zaida
Acordamos e por incrível que pareça, estava incluso um café da manhã no valor do hotel, o que foi ótimo. Agilizamos o café da manhã, preparamos as bicicletas e começamos o dia. Novamente, já tinha olhado no aplicativo e já sabia que teríamos um dia longo até Zaida (60km), um primeiro trecho de subida e depois muita descida. Passamos por uma região bem montanhosa pela manhã, um cenário desses filmes do Stars War, surreal. Pedalávamos observando o nosso redor e como era privilegiados de estar no meio daquele cenário. Seguimos com o nosso dia e logo chegamos na parte de descida, foram vários quilômetros descendo, com as bicicletas pesadas tenho certeza que gastamos bastante pastilha de freio (rs). O cenário começou a mudar um pouco ao longa da descida, pedalamos por uma floresta com árvores enormes, acho que eram pinus. Muito bonito. Viemos descendo um bom tempo e até começamos a pensar em dar uma revisada nos freios. Em dias de muita descida, as chances de chegar mais cedo no seu destino aumentam. E foi o que aconteceu conosco, quando percebemos já estávamos a 10 km do nosso destino final, Zaida. Aproveitamos que ainda estava cedo e paramos para descansar e tomar um café. Chegamos a Zaida, e logo já fomos buscar um lugar para dormir. A cidade não é muito grande então foi fácil encontrar um lugar para dormir. Era uma acomodação até que perto do “centro” da cidade. Como chegamos cedo, aproveitamos para tomar um banho quente (já está bem frio agora) e aproveitamos para descansar. Fomos jantar no centro da cidade e encontramos um restaurante que estava aberto e comemos mais um tagine. Fim do dia, voltamos para o hotel e fomos logo dormir, dia seguinte voltaríamos para a estrada sentido a cidade de Midelt.
Midelt
O dia amanheceu com um céu azul lindo. O frio já estava presente, estávamos em pleno Outono. Tomamos nosso café da manhã no hotel e logo pegamos a estrada. Já começamos a sair para o pedal com mais camadas de roupas também. Hoje seria uma pedal teoricamente tranquilo pois estávamos entrando em uma região plana porém a experiência nos ensina, terreno plano grandes chances de ventos (já que não tem montanha protegendo). E foi o que aconteceu, logo que caímos na estrada pegamos um vento de frente meio que na diagonal que dificultava um pouco o rendimento do pedal. Nessas horas eu tento ficar um pouco a frente da Dani para tentar proteger ela do vento mas é difícil. Viemos no nosso ritmo, até que em um momento o vento começou a ficar mais forte, pensamos “vai ser um dia daqueles.”, faltando uns 15km para chegarmos em Midelt a Dani avistou na nossa lateral uma massa de ar escura, me chamou “Leo, olha o vento ali..”, paramos para ver de perto e percebemos que na verdade era uma tempestade de areia (!). Já tirei a Gopro para ver se conseguia filmar aquele acontecimento. Ficamos ali observando e só pensando: essa tempestade vai chegar em nós e vai ser um caos esses últimos quilômetros. E foi, porém como nossos anjos são bem massa, paramos em um ponto em que a estrada fazia uma curva leve para a esquerda e nesse exato momento o vento que estava batendo na lateral da bicicleta miraculosamente começou a bater nas costas da bicicleta (coisa raríssima em uma viagem de cicloturismo), aí meus amigos, foram os 15km mais rápidos da viagem. Vento batendo na “bunda” e com os alforges funcionando como uma espécie de vela, sentimos o que seria próximo de um pedal com uma bicicleta elétrica. Só tivemos um problema, o vento nesse momento nos ajudava porém estávamos literalmente no meio da tempestade de areia e foi areia para tudo quanto é lado durante todo o trajeto. Antes de chegarmos deu tempo de tomar um café em um posto de gasolina para nos abrigar um pouco da tempestade. Chegamos em Midelt bem cansados. Logo que chegamos já fomos atras de um lugar para ficar. A tempestade de areia havia se tornado uma chuva leve. Encontramos um hotel e aproveitamos para descansar. A chuva apertou e nem conseguimos aproveitar a cidade. Ficamos o dia todo no quarto do hotel, o que foi ótimo para descansar bem. No dia seguinte tínhamos a opção de ficar mais um dia na cidade, nosso dia de descanso estava perto e foi o que fizemos, aproveitamos para descansar. Choveu o dia todo, então foi ótimo. Nesses dias de descanso aproveitamos bastante para não fazer nada mesmo, as vezes, é bom e necessário.
Tillicht
O dia amanheceu lindo porém um frio grande. Acordamos cedo, montamos as bicicletas e fomos buscar nosso café da manhã. Saímos bem cedo pois hoje seria um dia em que iríamos fazer o Atlas e levaríamos bastante tempo até o nosso destino final, a cidade Errachidia. “Sofremos” bastante na manhã gélida que fazia, as mãos estavam dura do frio e colocamos todas as roupas que tínhamos para frio. O Sol começou a sair e ajudou para nos aquecer. Logo no começo, ainda estava tão frio que tive que colocar uma calça para poder pedalar. Logo no pé da nossa subida um casal de franceses encostou em nós e fomos trocando informações. Foi ótimo reencontrar viajantes de bicicleta em terras marroquinas. Eles tinham bem mais “perna” que nós em termos de pedalada e estavam num ritmo mais rápido que nós, fato que não fez com que passássemos o dia todo juntos. Eles eram muito legais, estavam fazendo uma viagem de bicicleta saindo do norte da França (onde moravam) indo rumo ao Marrocos e depois voltariam para casa. Viemos serpenteando o Atlas e logo perto do meio dia cruzamos o Atlas. Ficamos muitos felizes, principalmente a Dani. Ela ficou muito feliz de ter feito mais essa importante cadeia de montanha. Como já tínhamos visto que seria um dia de subida na primeira parte e descida até a nossa cidade de destino, aproveitamos para descansar em um restaurante que encontramos ao pé da montanha no outro lado. Nos aproximamos dos nossos amigos franceses e até fizemos planos de nos encontrarmos de novo no deserto, em Merzouga. Eles estavam fazendo uma rota bem parecida com a nossa e as datas de chegada no deserto seria igual. Seguimos com o nosso pedal e já estava começando a cair o dia, percebemos que não conseguiríamos chegar a Errachidia e decidimos ficar na próxima cidade que aparecesse em nosso caminho. Nossos amigos franceses estavam em um outro ritmo e iriam buscar um lugar para acampar. Entramos na cidade e já fomos procurar um hotel. Conseguimos achar um hotel justo e já nos instalamos. Em dias assim, em que estamos cansados, e não estamos a fim de cozinhar, logo que chegamos só deixamos nossas coisas no quarto e já vamos atras de comida e nossa janta. Foi o que fizemos, achamos um restaurante e jantamos. Voltamos para o hotel e foi o tempo de tomar um banho e dormir. Para nós, um banho depois de um dia puxado de pedal é algo que relaxa tanto que não temos força para mais nada depois. Fim do dia.
Errachidia
Acordamos cedo e bem descansados. Tomamos café e já voltamos para a estrada. Hoje sim, iríamos ir até Errachidia. Viemos nesse trecho do caminho observando se encontraríamos nossos amigos franceses mas não encontramos eles. Seria um dia bem bonito, já tinha visto algumas fotos do vale que iríamos pedalar hoje. Viemos em uma planície que chegava a um restaurante que ficava no topo do vale e que tinha uma vista muito bonita do Gorges du Ziz, nome do rio que corta o vale, o rio Ziz. Vindo pedalando já por um bom tempo no Marrocos a paisagem estava muito parecida nesse momento da viagem, então olhar uma paisagem diferente assim, um óasis verde no meio do deserto foi muito bonito. Descemos até o nível do rio e viemos percorrendo pela sua lateral, para a nossa alegria quando a estrada margeia o rio tende a ser plana, o que é bom. Ao longo do rio algumas hospedarias e restaurantes para as pessoas pararem. Viemos bem devagar por esse trecho pois iriamos fazer uma distância menor hoje até chegar em Errachidia. Chegamos em Errachidia e logo já fomos no supermercado na entrada da cidade, precisávamos nos abastecer. O supermercado era bem grande e tinha boas opções para nos abastecermos. Depois do supermercado precisávamos achar um lugar para passar a noite. Aqui em Errachidia não tínhamos um lugar para ficar, eu tinha marcado no mapa mas precisávamos ver os preços e disponibilidade. Rodamos um pouco pela cidade e dos poucos hotéis que fomos estavam muito caro. É comum isso acontecer em cidades com pouca opção de hospedagem, e claro, você sendo gringo é a chance deles ganharem o deles também. Acabou que paramos em um restaurante para pegar uma internet e perguntar se eles indicavam algum lugar para ficar e percebemos que o restaurante tinha um belo jardim. Não pensamos duas vezes, propusemos para o dono se poderíamos armar a barraca ali depois que o restaurante fechasse. Ele comentou que sim, ficamos felizes. Como chegamos cedo, tivemos que esperar os clientes sairem, o restaurante era uma espécie de área de lazer para as famílias marroquinas, então os pais ficavam sentados e os filhos brincavam no parquinho. Era um lugar novo, o dono tinha recém aberto. Como moeda de troca, compramos algumas coisas para beliscar e jantamos no restaurante, claro. Com o restaurante já sem clientes, fomos rápidos em montar nossa barraca bem debaixo de um gazebo que tinha, uma proteção extra nunca é demais. A noite já estava fria, e fomos tomar uma ducha e para nossa azar, a agua não esquentou por completo (maldito boiler). O jeito foi tomar um banho morno e rápido para ja ir dormir. Foi um dia intenso, muitas coisas aconteceram e isso desgasta as vezes. Dormimos cedo em nossa barraca.
Efroud
Que noite, meus amigos(as), fez um frio pesado, a temperatura despencou a noite e com a barraca muito próxima do chão de gram úmido, fez com que a temperatura ficasse bem baixa dentro da barraca. Dormimos com todas as roupas e coisas de frio que tínhamos. Acordamos cedo, e para nossa surpresa, o teto, a barraca e as coisas ao redor estava congeladas. Sinal de que certamente a noite atingiu temperaturas negativas. O frio ainda estava forte pela manhã. Desmontamos o acampamento com os dedos doendo do frio, o Sol ainda não estava entrando na área do restaurante. Tentamos nos aquecer com o que dava. Ufa, o Sol saiu e conseguimos terminar de embrulhar a barraca, fechar os alforjes e começar o pedal do dia. Nossos pedais tem sido o efeito camada de cebola, saímos com todas as roupas para frio e ao meio dia estamos pedalando com a roupa leve, o calor é forte aqui, mesmo no inverno. Já estávamos no trecho sentido a Efroud, nossa próxima cidade. Seguimos percorrendo trechos de oásis e hoje após uma planície inicial logo na saída da cidade, já começamos a pegar algumas subidas. A estrada continuou linda, com o contraste entre a cor terrosa do deserto e o verde das tamareiras, o pedal até rendeu mais. Em um momento, antes de iniciar uma grande subida decidimos parar para almoçar e como sempre fazíamos, parávamos e almoçávamos, como uma rotina. Essas pausas eram bem importantes. Seguimos o pedal do dia, e como paramos no pé de uma subida para almoçar, a retomada foi devagar (rs). No meio da subida, estávamos pedalando pelo acostamento e uma caminhonete parou logo a frente de nós. A Dani estava mais a frente e começou a conversa com as duas pessoas que saíram do carro. Eram dois argentinos, o Facundo e a Karina, eles estavam viajando o mundo com uma caminhonete com um castelo inflável na caçamba e que eles iam em comunidades carentes ao redor do mundo e montavam o castelo inflável para que as crianças daquela comunidade pudessem brincar. Um projeto lindo, chamado Expedición Sonrisa (https://expedicionsonrisa.com). Eles viram nós na subida e repararam na bandeira do Brasil que estava nas nossas bicicletas, e como bom latino americano, parou para conversa. Deu uma super liga entre nós logo de cara que combinamos de nos encontrar em Efroud (eles também estava indo para lá). Nos despedimos de nossos amigos hermanos e continuamos o nosso pedal. Por sorte essa seria a última subida do dia e a cidade já estava a uns 20 km dali. Chegamos em Efroud e logo encontramos um hotel que cabia no nosso bolso. Foi ótimo, pois iriamos ficar na cidade mais de 1 dia. Era nosso tempo de descanso. Quando ficamos em um hotel e na noite anterior tínhamos acampado, era bem comum chegarmos no nosso quarto e abrir a barraca para secar (rs), essas coisas acontecem. O quarto fica uma bagunça, mas uma bagunça necessária. Combinamos de jantar com nossos novos amigos argentinos. Foi um tempo necessário, fazia muito tempo que não interagíamos com estrangeiros, principalmente latinos-americanos, a interação é outra. Foi uma noite muito agradável. Eles também estava com saudades de encontrar gente. Como eles estavam fazendo a mesma rota que nós, combinamos de nos encontrarmos em Merzouga, nosso próximo destino.
Merzouga
Ficamos em Efroud 2 dias e foi ótimo. Saímos cedo do hotel, e fomos tomar um café da manhã nos restaurantes na avenida principal. Em um momento, escuto barulho de moto e percebemos que a cidade de Efroud era a cidade base para os pilotos do Dakar treinarem. Já ganhei o dia de ver eles passando de moto ali na nossa frente. Seguimos o dia, teríamos 52km para fazer, totalmente plano, o que pode ser bom ou ruim, depende do vento. Lição aprendida lá no começo da viagem na Holanda. Terreno plano grande chance de ter vento contra. Não foi o caso, para nossa alegria, o vento estava bem tranquilo. Quando nos aproximávamos de Merzouga conseguimos ver a montanha de areia ao fundo, foi emocionante ver que conseguimos chegar no Saara com o esforço de nossas pernas e bicicletas. Avistar o deserto deu um gás no pedal e quando menos percebemos já estávamos perto do fim do pedal. Como estávamos em um orçamento mais apertado, decidimos não ir até Merzouga, ficamos na cidade prima pobre do lado, Hassilabied. Não iríamos fazer a “noite no deserto” pois já tínhamos tido essa experiência no Egito e não estávamos muito afim de fazer. Queríamos ver o Saara mais uma vez somente. Lembra dos nossos amigos cicloviajantes franceses que encontramos nos Atlas? Do nada, eles apareceram no mesmo hotel que nós em Hassilabied. Ficamos bem felizes de revê-los. Eles iriam passar a noite no deserto. Logo que chegamos, nossos outros amigos argentinos também chegaram no hotel. Eles tinham outro padrão de viagem, e acabaram indo para um outro hotel, mas combinamos de fazermos um jantar/ picnic no deserto, que ficava bem na frente do nosso hotel. Eles pegaram nós no fim do dia, e fomos com a caminhonete deles deserto a dentro. Foi muito legal revê-los também. Facundo estava bem empolgado de estarmos reunidos de novo até compartilhou algumas cervejas espanholas que ele conseguiu entrar no Marrocos. Foi muito bom estar com eles ali, tomando cerveja, comendo queijo e vendo o céu estrelado. Como eles iriam seguir viagem no dia seguinte, trocamos os nossos contatos e combinamos de passar o ano novo juntos em Marrakesh. Iria dar certinho a data. No dia seguinte, aproveitamos para passear pelas dunas do deserto e conhecer o vilarejo que estávamos ficando. Estava um dia lindo, céu azul, sem nenhuma nuvem. Foi perfeito. No fim do dia voltamos para nosso hotel e trocamos algumas informações com nossos amigos franceses. Eles iriam fazer a mesma rota que planejamos, porém eles tinham um prazo mais curto. Essas trocas de informações são muito ricas, aprendemos bastante com eles.
Tinejdad
Saímos de Hassilabied e iriamos pedalar com nossos amigos franceses até Efroud novamente. De lá eles iriam seguir o caminho deles e nós iriamos ficar mais uma noite na cidade. Estávamos no fim do ano e como iríamos passar mais um Natal fora, a Dani resolveu nossa volta na cidade para mandarmos postais para a família. Era hora de seguirmos nossa jornada no Marrocos, agora entraríamos numa região montanhosa mas com um bom trecho sem muitas montanhas para transpor. Os Atlas já eram passado na nossa jornada. Saímos de Efroud e tinha tudo para fazermos a maior distância da nossa viagem, dariam mais de 90km. Acordamos cedo, o vento estava bem calmo, dia de sol bonito, o trajeto seria bem plano e estávamos bem descansados. Nossa cidade seria destino seria Tinejdad. Viemos percorrendo por pequenas vilas, em um momento perguntei para Dani como ela estava se sentindo, e ela falou que estava muito bem, nesse momento nos olhamos e sabíamos que valeria o esforço de pedalar uma distancia maior, estava tudo favorável. Em umas das vilas que cruzamos avistamos de longe um grupo de crianças que também nos viram e formaram uma espécie de barreira no meio da estrada, começamos a rir da cena. Fomos chegando perto e as crianças vieram para o acostamento, peguei a Go Pro e comecei a filmar eles. Como estávamos devagar eles queriam tocar nas nossas mãos, foi muito legal esse momento do dia. Seguimos o dia e o Sol já estava caindo quando chegamos em nossa cidade do dia. Fizemos 98 km nesse dia, nosso recorde. Estávamos exaustos mas felizes. Como estamos no inverno, o dia termina cedo, entramos em nossa pousada já estava escuro. Aproveitamos que a pousada tinha uma estrutura de restaurante e jantamos nele. Na manhã seguinte teríamos café da manhã incluso, o que era bom.
Tinghir
Os dias estavam lindos, nada de chuva e um céu azul que era maravilhoso de ver. A cor do céu é algo que sempre nos animava. Café da manhã tomado, bicicletas prontas (algumas vantagens de ficar em uma pousada, arrumar os alforjes é bem mais rápido). Começamos o pedal um pouco mais tarde, seriam apenas 53km, porém mal sabia que seriam os 53km mais difíceis da viagem. Vim pedalando super bem nos primeiros 35km do dia, porém logo depois que fizemos uma pausa na beira da estrada comentei com a Dani que não estava bem. Uma dor de barriga, minha energia tinha despencado, estava sem força. Foram os 20km mais difíceis da viagem. Até hoje não sei como cheguei pedalando a Tinghir. Por mais que seriam poucos km hoje, chegamos na cidade perto das 15:00. Estava muito fraco. Foi o tempo de encontrarmos um hotel e por lá ficar. Estava exausto e sobrou para a Dani ir atras de comida, e coisas para a minha recuperação. Como temos uma sinergia boa, a Dani é bem esperta e se vira super bem nessas situações em que tem agir sozinha. Eu fiquei descansando no hotel. Ela voltou com comidas e bastante água para a minha recuperação. Fizemos uma “sopa” que deu boa até. Não iríamos parar em Tinghir mas fomos forçados. Mudamos um pouco os nossos, estávamos com bastante tempo para chegar em Marrakesh para o ano novo. A pausa forçada foi boa. Aproveitamos os 3 dias que ficamos ali para caminhar e conhecer a cidade. Quando ficamos mais tempo nessas cidades, dá tempo de até escolher os restaurantes e cafés que gostamos mais e meio que criamos uma mini-rotina. A cidade de Tinghir é pequena mas refletia bem o que era esse interior do Marrocos. Vários cafés espalhados pela rua principal, os homens sentados tomando chá, fumando um cigarro e observando o movimento. Já estamos fazendo 2 meses de Marrocos nesse momento da viagem. Me recuperei super bem, arrisquei até um omelete berbere. Estávamos prontos para seguir viagem até nosso próximo destino. Acordamos cedo, aprontamos as bicicletas e fomos tomar café em um dos café da praça principal. O dia amanheceu com um céu cinza, fazia frio e já vimos que o dia seria puxado. Começamos o pedal e logo na cidade veio uma garoa fina, os dedos da mão começaram a congelar. Olhei para a Dani e numa sintonia enorme já sabia que esse seria o menor dia de pedal (hahaha). Nem chegamos a sair de Tinghir e já paramos em um hotel. A chuva apertou e foi a melhor decisão que tomamos no dia. O hotel era bom, agua quente e um quarto com calefação. Foi ótimo, pois aproveitei para trabalhar um pouco. O que era para ser somente mais uma noite viraram 2 noites. A Dani não reclamou (rs) estávamos precisando dessas pausas. Enfim, coisas que a só estando na estrada para entendermos os sinais.
Boulmane
O dia amanheceu aquele clássico do Marrocos. Céu azul, frio de inverno e pouco vento. Estávamos prontos para seguir viagem. Nosso próximo destino, a cidade de Boulmane. Essa era uma das cidades que eu estava mais aguardando para chegar. Quando estávamos planejando a viagem de bicicleta, acompanhei alguns perfis de cicloturismo no Instagram e em um desses perfil me deparei com uma foto de uma serra toda serpenteada que adentrava vale a dentro, pensei “é esse lugar que temos que ir”. Quero estar nessa serra, quero subir ela toda. Essa serra era Dádes Gorges ou Gorges du Dádes. O planejamento que fizemos para nossa passagem pelo Marrocos começou lá atras e quando estávamos em Portugal compramos um mapa específico do Marrocos para visualizar a rota. Eu adoro mapas. Planejar deslizando o dedo no mapa parece que já estamos ali, uma espécie de antecipação necessária, um sentimento de propriedade é construído. Viemos pedalando por uma estrada e uma região bem plana, e para nossa alegria, o vento não estava tão castigaste, o que ajuda a render o pedal. Foi um dia curto de pedal e chegamos perto das 14:00 em Boulmane. Boulmane é a base que usamos para visitar a linda Gorges du Dádes. A cidade era bem pequena, com poucas opções de hospedagem nela. Quando vimos que o hotel logo na entrada seria nossa opção mais fácil, já paramos ali para negociar um quarto para nós. Iríamos ficar 2 noites lá. Aproveitamos o dia curto de pedal e fomos almoçar e conhecer a cidade a tarde. Fomos a pé. Fazia frio e achamos um restaurante simples porém com uma comida muito bem feita. Pedimos uma sopa de lentilha que estava muito gostosa. A noite caiu e fomos descansar, no dia seguinte iríamos levantar cedo e fazer o trecho entre a cidade e Gorge du Dádes. A Dani amanheceu um pouco resfriada, mas mesmo assim decidimos visitar o lugar. Era a nossa chance de pedalar por aquela estrada. Fazia frio, colocamos roupa para proteger do vento e dessa vez fomos sem os alforjes pois iríamos fazer um bate-volta. As bicicletas estavam leves (ufa). O trajeto até chegar a serra é curto, apenas 18Km porém de Boulmane até lá é basicamente subida. O dia permaneceu clássico marroquino. Depois de um par de horas, chegamos no Gorges Du Dádes, que lugar incrível. Um vale no meio da montanha de cor terrosa, com a estrada cortando o vale junto adentrando a garganta até chegar na serra serpenteada. O caminho até chegar lá já havia valido a pena, porém não iríamos deixar de subir a serra. Foi o que fizemos, são pouco menos que 2km de subida que no zig-zag vc nem percebe a subida. Maravilhoso chegar e estar ali com nossas próprias pernas. Chegamos no topo da serra e ficamos ali observando o vale que havíamos percorrido e sua imensidão dentro do cenário que estávamos. Que privilégio poder vivenciar isso. Algumas fotos (mentira, muitas fotos) e decidimos voltar para Boulmane. A volta foi mais tranquila pois a maioria do trajeto foi em descida. Chegamos na cidade e fomos direto para o hotel, Dani estava bem cansada e o resfriado dela tinha evoluído um pouco, estava precisando descansar. Como a Dani precisava se recuperar, fui atras da nossa janta para comermos no hotel. Não pensei duas vezes, voltei no restaurante e pedi uma sopa de lentilha para a Dani. Foi a melhor coisa para ela se recuperar.
Skoura
A Dani acordou bem mais disposta, a sopa deu certo. O dia amanheceu bonito, estava frio mas com aquele céu azul. Hoje o deslocamento seria longo, 71km até a nossa próxima cidade, Skoura, grande parte do trajeto em descida. Viemos pedalando pela N10, a estrada continua plana, e nosso dia foi curto. Essa estrada é muito tranquila, durante todo o nosso tempo que percorremos não tivemos nenhum problema com os carros e caminhões que passavam por nós. Esse tem sido um aspecto bem interessante, temos achado os motoristas marroquinos bem respeitosos. Alguns motoristas de caminhão até abrem para a outra pista para nos ultrapassar. Temos pegos dias de sol muito bonitos. Esse clima de inverno, fica mais seco e quase nada de chuva.
Ouarzazate
Saímos cedo de Skoura, temos criado essa rotina de sair cedo para chegar cedo em nossa cidade de destino. Hoje pedalaríamos 45km, o dia de hoje seria curto também. Seguimos pela N10, que é a estrada que leva a Marrakesh. Ourzazate é famosa pela indústria cinematográfica. Além das produções marroquinas, Ourzazate foi cenário para outros filmes e produções de Hollywood. Os filmes mais famosos com cenas filmadas aqui são A Múmia, Gladiador e episódios de Game of Thrones (que vamos falar na próxima cidade, Ait Benhaddou). A cidade tem um museu que celebra o cinema. Chegamos em Ouzazarte perto do almoço, já fomos procurar um hotel para nos hospedarmos. Encontramos um hotel numa região bem central, com bastante opção de restaurantes e café no seu redor. Deixamos as bicicletas no hotel e fomos conhecer as redondezas do hotel. Encontramos uma praça no bairro e voltaríamos no fim do dia para observar as pessoas. Aqui os marroquinos tem um hábito bem noturno. Durante o dia víamos poucas pessoas na rua (não sei se pelo calor ou pois estavam trabalhando), já durante a noite, a cidade e suas ruas ferviam. Essa praça e o seu redor vivia cheia de gente. Bazar é algo bem comum aqui também, normalmente os bazares são referências na cidade. Ficamos em Ouarzazate duas noites e aproveitamos para comprar as passagens de ônibus para Marrakesh. Decidimos ir para Marrakesh de ônibus por duas razões: primeira que teríamos que transpor a pontinha do Atlas que toca Marrakesh, e sabíamos que seria o dia todo subindo (o que iria nos deixar bem cansados) e segundo, queríamos chegar em Marrakesh a tempo de aproveitar a cidade e tínhamos combinado de reencontrar nossos amigos argentinos para passarmos a virada do ano juntos.
Ait Benhaddou
Saímos de Ourzazate em direção a Ait Benhaddou, seria uma viagem de bate e volta. Viemos para Ait Benhaddou para ver a sua cidade fortificada. Essa cidade fortificada ficou conhecida mundialmente por cenas da série Game of Thrones e também pelo documentário do Will Smith, Earth. O fortificado impressiona. Logo na chegada da cidade é possível avistar o fortificado do alto do morro que chega na cidade. Estava bem animado para conhecer esse lugar e fazer algumas fotos. Por ser uma cidade “muito turística” as opções de hospedagem ficam caras e com uma qualidade desejável. Não tinha o que fazermos nesse sentido, ficamos no hotel mais em conta e que atendia nossas necessidades básicas (digamos..rs). O fortificado realmente impressiona. A arquitetura e o material (argila) impressiona. Ficamos o dia todo caminhando por dentro e nos arredores do lugar. Esse lugar é considerado Patrimônio da Unesco desde 1987. Fim da nossa rápida passagem por Ait Benhaddou, estava na hora de voltar para Ourzazate. Saímos cedo pois iríamos pegar o ônibus para Marrakesh na manhã seguinte. Deu tempo de passear a noite em Ourzazate.
Marrakesh
Acordamos, tomamos nosso café e fomos para a rodoviária. Por mais que iríamos pegar um ônibus, os dias de deslocamento sem as bicicletas são dias mais “estressantes” para mim. Normalmente preciso pensar em muitos detalhes (tipo, vão caber as duas bikes no bagageiro? e os alforjes, vão no bagageiro ou vão conosco na parte de cima? O ônibus é direto ou vai fazer uma parada para trocarmos de ônibus?), não parece mas essas muitas decisões que precisamos tomar dá uma sugada na energia, mas se não há muito o que fazer, é se conformar com a situação apresentada e tocar a vida. Nosso ônibus tinha espaço suficiente para não desmontar as bikes (tirar as rodas), mas tivemos que empilhar uma em cima da outra para que a viagem começasse. Nossos alforjes também ficaram no bagageiro. Deu certo, bikes protegidas e instaladas, seguimos para Marrakesh. O dia amanheceu bem bonito, e o trajeto foi bem bonito. A estrada que cruza o Atlas é bem bonita e quando começamos a descer para Marrakesh, a vista da estrada e da cidade aos pés da montanha é bem linda. Conversamos que daria para pedalar e fazer esse trecho de bicicleta, porém estávamos felizes com a nossa decisão. Chegamos em Marrakesh no fim do dia. Precisamos montar as bicicletas e pedalar até nosso hotel. Como ficaríamos mais dias em Marrakesh, alugamos um Airbnb e foi a melhor coisa que fizemos. A região que escolhemos era um bairro “mais ocidental” e tinha até um shopping com um Carrefour que vendia bastante produto ocidental (inclusive cerveja). A Dani estava com saudades de cozinhar em uma cozinha propriamente dita (hahaha). Ficaríamos 10 dias na cidade. Deu tempo para relaxar, conhecer parte da cidade, passear pela Medina de Marrakesh e rever os nossos amigos argentinos (Facu e Karina). Foi o que fizemos. Visitamos a Medina de dia e a noite. Muito legal passear pelos becos da Medina e se “perder” ali. Nosso ano novo foi junto com nossos amigos, fizemos um jantar/ ceia e foi muito legal. Facu e a Kari estão viajando com uma caminhonete e eles trouxeram vinhos e cervejas da Europa (eles também cruzaram para o Marrocos da Europa). Foi uma virada de ano diferente (hahaha), estávamos na expectativa de ver fogos mas nada aconteceu, aparentemente celebrar a virada do ano é algo de ocidental (hahaha). Como não estávamos acostumados com bebida alcóolica, acordamos com uma ressaca boa no dia seguinte. Fui comprar uma coca-cola para ver se ajudava a “curar” a ressaca. Foram dias muitos bons em Marrakesh, deu para descansar e recarregar a motivação para a parte final da nossa viagem no Marrocos.
Chemaia
Acordamos, arrumamos nossas bicicletas e já começamos o pedal para sair de Marrakesh. Nessa altura da viagem já estávamos cientes que sair da uma grande cidade iria exigir bastante paciência nossa. Normalmente o trânsito nessas cidades é bem chato e demora até sairmos da bagunça. Para complementar, hoje seria um dia que iríamos pedalar em direção a um lugar que não teríamos um lugar para ficar (hotel, pousada, etc). Não foi um dia fácil. Como esperado, demoramos bastante para sair da cidade, estresse do trânsito, barulho, bagunça e confusão (hahaha). Viemos pedalando pela N7, foi um dia bem cansativo. Chegamos em Chemaia, 90km depois de Marrakesh. Estávamos sem forças para pedalar. Procure no mapa, Chemaia e você vai ver que não tem nada, basicamente um posto de gasolina. Foi justamente nesse posto de gasolina que pedimos para passar a noite. Atrás do posto de gasolina tinha um gramado bem bom e que daria para montar a nossa barraca. Foi o que fizemos, pedimos para acampar no gramado e o pessoal do posto deixou. Montamos nossa barraca, amarramos as bicicletas perto da árvore que ficava do lado da nossa barraca e fomos fazer nossa janta. Hoje é um dia que não tem banho de chuveiro, e sim, passar uns lenços umedecidos nas partes íntimas (hahaha). Dias como hoje a única coisa que queremos fazer é descansar, por isso fomos direto para nossa barraca e dormirmos.
Safi
Uma estratégia que precisamos adotar quando fazemos “camping selvagem” é acordar o mais cedo possível, tomar um café mínimo e já sair para pedalar. Para evitar que a polícia e/ ou autoridades possam vir nos “incomodar” perguntando o que estávamos fazendo ali e porque não estávamos em um hotel. No Marrocos não é “permitido” fazer camping selvagem. Alguns estrangeiros relatavam a policia abordou eles quando estavam acampando em lugares “proibidos”. Seguimos pela N7 até nosso destino do dia, a cidade de Safi. Viemos pedalando rumo ao litoral, iríamos em direção a Casablanca, nossa última cidade no Marrocos. Foi um pedal bem rotineiro, paramos para tomar um café ao longo do caminho, fazer nosso almoço (aqui nessa altura da viagem já estávamos enjoados de comer pão com uma espécie de Pollenginho deles) mas era o que tínhamos. Era gostoso faze as paradas no meio do pedal para nosso café. Também já estávamos “cansando” do Marrocos, quase 3 meses pedalando pelo país. Chegamos em Safi e ficaríamos 2 noites aqui.
Oualidia
Saímos de Safi, ficamos bem pouco tempo, e já seguimos rumo a Oualidia. Viemos percorrendo a estrada R301, que praticamente beira o mar em quase toda a sua extensão. O pedal é relativamente plano e vem beirando a região de praia do lado do Atlântico. Nosso destino final seria Casablanca. Em Oualidia, combinamos de encontrar o Júlio (@ciclotrips) e o Diego. Estávamos pedalando pelo Marrocos no mesmo momento, porém em sentidos opostos. O Julio e o Diego começaram a viagem deles saindo de Casablanca e estavam indo sentido o Senegal. Nessa época, era comum seguirmos brasileiros que também estavam viajando de bicicleta e foi uma baita coincidência que eles estavam viajando também. Entrei em contato com o Júlio e combinamos de nos encontrar em Oualidia. Nós chegamos um dia antes deles, ficamos em um hotel na beira da rodovia até eles chegarem. Quando eles chegaram, o Júlio já tinha negociado uma casa com um local para ficarmos os quatros, o que foi muito bom. Aproveitamos esse momento em Oualidia para descansar um pouco e conhecer a cidade. O Júlio e o Diego iriam ficar mais tempo que nós, mas também aproveitaram para descansar um pouco da viagem deles. Eles iriam descer por essa costa do Marrocos, cruzando pela Mauritânia e chegariam no Senegal. Seria um pedal bem desafiador para eles. Como estávamos dividindo a casa, fazíamos algumas refeições juntas, o que era bem legal para trocarmos experiências e histórias da estrada. Em um dia fomos para a parte baixa da cidade, onde tem um espécie de “braço” de mar que criou um baía de águas calmas. Tem alguns barcos, parecidos com gôndolas, que fazem passeios nessa baía. Fomos caminhar na praia. Fim da nosso tempo em Oualidia, era o momento de dar tchau para nossos amigos. Foi um momento bem legal encontrar brasileiros depois de muito tempo sem falar o português (rs) que não seja entre eu e a Dani.
Mazagão
Saímos de Oualidia logo depois do nosso café da manhã, como a cidade era concentrada na R301, montamos as bicicletas e já caímos na rodovia. Seria um dia de pedal comprido, 80km até Mazagão. Em alguns momentos a estrada ficava bem perto do mar e dava para tirar algumas fotos do alto do cliff. Era uma região bem plana, teríamos pouca altimetria nessa etapa final da viagem. As altas montanhas já tinham passado. Chegamos em Mazagão no fim da tarde, e já fomos buscar um hotel para ficar. Achamos um hotel relativamente bem localizado e conseguimos deixar as bicicletas guardadas em um lugar seguro dentro do hotel. O dia ficou nublado por um bom tempo, nossa estadia em Oualidia também teve dias nublados e até chuva. Ainda está frio aqui no Marrocos. No litoral é um pouco mais quente que nas montanhas. Em Mazagão ficamos 2 dias. Fomos visitar o Cidade Portuguesa, aqui em um momento da história, foi colônia portuguesa. A Cidade portuguesa é uma cidade murada e que tem fortes de observação em seu pontos estratégicos. Não tinha mais o que fazer em Mazagão e nos aprontamos para ir para nossa última cidade no Marrocos, Casablanca.
Casablanca
Saímos cedo de Mazagão naquele esquema já manjado, acorda, arruma os alforjes nas bicicletas e já parte para pedalar. Nessa altura da viagem as vezes saíamos da cidade até achar um café para então tomar nosso café da manhã. Especialmente quando ficávamos em hotel (que a maioria não tem café da manhã). Viemos pedalando pela R320, uma via mais alternativa que a N1, rodovia principal. Imaginávamos chegar em Casablanca hoje, estávamos dispostos a fazer os 108km que nos separavam de nosso último destino no país. Só imaginamos (rs). O vento pegou e conseguimos fazer 70km para então pararmos 30km antes de Casablanca. Foi um dia “tenso”, não sei se por causa da ansiedade de chegarmos ou por causa da falta de certeza se teríamos um lugar para ficar ao longo dessa estrada. Chegamos em uma cidade que parecia “ter” alguma acomodação, não tinha. Já eram quase 18:00 passada e o Sol começava a cair. Num ato de necessidade, fomos conversar com um vendedor de imóvel que estava dentro de um showroom. O espaço do showroom tinha uma grama bem grande o que serviria para um acampamento. Comentamos com o vendedor a nossa necessidade (um lugar para dormir), Simo falou que não poderíamos acampar no espaço por uma questão de a polícia vir nos incomodar e trazer problema para ele. Simo cogitou até de dormirmos dentro do showroom (o que seria o lugar mais inusitado que dormiríamos em todas as nossas viagens). Alguns telefones rolaram até que ele, num gesto de muita bondade, nos convidou para irmos dormir no apartamento dele. Não tínhamos palavras para agradecer nosso amigo. Fomos para o apartamento dele, tomamos banho e fomos jantar fora com ele. Trocamos algumas experiências e fomos dormir. Estávamos exaustos. No dia seguinte, amanheceu um dia bem frio, tomamos café da manhã com o Simo e nos despedimos (as pessoas, sempre elas contribuindo para a experiência). Começamos o dia pedalando com vontade de chegar o quanto antes em Casablanca. Viemos rápido (o vento nos ajudou), perto das 12:00 já estávamos adentrando Casablanca e entendendo como chegar em nosso Airbnb. Casablanca é a maior cidade do Marrocos, morada de muita gente. Pedalar em uma cidade com os alforjes requer bastante atenção. O trânsito caótico pode causar acidentes que queremos evitar. Nessas situações, eu vou navegando usando o celular e um GPS e a Dani pedala um pouco a minha frente e eu me posiciono na sua lateral um pouco mais para o fim da bicicleta dela assim eu protejo ela da uma possível colisão lateral ou pelas costas. Funciona bem certo essa tática. Chegamos em nosso destino final, agora seriam 7 dias em Casablanca para descansar e planejar nosso próximo destino (Tunísia). Nosso apartamento ficava em um região mais afastada do centro o que nos possibilitou vivenciar uma Casablanca menos turística. Aproveitamos esses dias para cozinhar bastante, zerar algumas séries no Netflix também (as viagens tem esses momentos também). Em um dia fomos visitar o principal ponto turístico da cidade, a mesquita Hassam II. O lugar impressiona, com a sua mesquita com capacidade de receber mais de 105 mil pessoas, é considerada uma das maiores mesquitas do mundo. Fim de nossa viagem pelo Marrocos. Foram 3 meses vivenciando a vida em um país com suas belezas naturais, seu povo, suas cidades e suas comidas. Viajar de bicicleta pelo Marrocos fez com que criássemos casca, nos formou ciclistas viajantes.
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