Espanha

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Quando colocamos a Espanha na nossa rota, tínhamos que tomar uma decisão: o que fazer nesse país grande? Rumaríamos para a parte central do país e deixaríamos Portugal para outro momento? Cruzaríamos o país na diagonal e entraríamos em Portugal pelo meio do país? Várias opções. Pensamos bastante e decidimos privilegiar e conhecer a parte norte do país e fazer o Caminho de Santiago de Compostela. Iríamos fazer o famoso Caminho de Santiago seguindo a rota chamada de Caminho Francês. O caminho pode ser feito de duas maneiras: a pé ou de bicicleta. A maneira mais tradicional é feita a pé, porém os adeptos da bicicleta tem feito. Nós iriamos fazer de bicicleta. Iríamos fazer toda sua extensão de 764km. Nós gostamos muito de fazer caminhadas e Compostela sempre esteve em nossos planos mas dessa vez será feito de bicicleta. Como estávamos com as bicicletas de cicloturismo (normalmente quem faz o caminho de santiago faz com uma bicicleta tipo mountain bike) precisaríamos nos adaptar. A bicicleta de cicloturismo é bem diferente por estarmos carregando todos os nossos equipamentos (roupas, equipamento de cozinha, barraca, etc) o que cria um certo volume com os alforjes laterais, o que não ajuda muito no caminho em si. Como a Dani comenta: não fizemos o caminho, ele estava em nossa rota.

Saint Jean Pied Port
A pequena vila de Saint Jean Pied Port fica aos pés dos Pirineus do lado Francês. É da li que a grande maioria dos peregrinos partem para fazer o caminho de Santiago de Compostela (a rota Francesa). Nós optamos por também sair dali. A cidade respira o caminho e tem um clima bem legal, todos que estão ali estão para começar uma bela jornada. Por ser um ponto importante nessa rota, muita gente faz o ritual inicial do caminho ali. No centro da vila, está a oficina do Peregrino é lá que todos devem retirar a credencial para poder realizar o caminho, independente do modal. Somente com a credencial é possível ficar hospedados nos albergues peregrinos, do contrário quem estiver fazendo o caminho deve procurar hotéis ou pousadas que aceitem pessoas que não estejam com a credencial. Estar com a credencial é bom, por ser um caminho bem turístico, a infraestrutura (hospedagem, logística e alimentação) é muito bem servida e tem para todos os bolsos. Nós optamos por fazer o caminho com as credenciais, para facilitar e para que pudéssemos também aproveitar toda a infraestrutura. Quando chegamos em Sain Jean Pied Port estava com o tempo bem instável. Vínhamos de um sequencia de dias chuvosos o que forçou nós a ficarmos mais tempo que queríamos na cidade. Como incluímos o caminho de santiago em nossa rota, aqui ficamos no camping municipal, e foi a melhor coisa que podíamos ter feito. O camping tinha uma infraestrutura fraca, já que era mantido pela cidade e estava faltando um pouco de manutenção, porém para nós estava bom. Aproveitamos os dias chuvosos para nos prepararmos para o caminho. Fiz uma manutenção básica nas bicicletas, já estávamos com quase 2 meses de viagem. Aproveitamos os dias lá para nos despedirmos da França. Continuamos comprando um baguete fresquinho para o café da manhã e quando dava também comprávamos um croissant. Tudo pronto, credenciais em mãos, bicicletas revisadas e corpo descansado, era hora de começarmos o nosso caminho.

Roncesvalles
Acordamos bem cedo ( começamos no dia 19/09/17) e confesso que estava começando a ficar meio “cansado” da vida no camping. Precisava continuar a pedalar. Começamos o dia seguindo o caminho (onde as pessoas caminhariam) e percebemos o óbvio: nossas bicicletas não eram para fazer o caminho pela mesma via dos peregrinos. A princípio ficamos um pouco frustados, porém adaptamos e seguimos. No primeiro dia do caminho os peregrinos tem 2 opções para fazer a subida dos Pirineus: a rota Napoleão ou a rota Valcarlos. Já haviam nos sinalizados que a rota Napoleão seria um sofrimento com nossas bicicletas de cicloturismo, então sobrou para nós fazermos a subida dos Pirineus pela rota Valcarlos. A rota Valcarlos é basicamente estradas e rodovias com asfalto que seguiam para as mesmas cidades e que volta e meia cruzaríamos com os peregrinos. Eu estava bem empolgado em fazer a nossa primeira cadeia de montanha da viagem. Iria pedalar no meio de uma cadeia de montanha bem famosa para as provas de ciclismo e só por esse fato, já fiquei empolgado. A Dani estava um pouco apreensiva mas foi subindo no seu ritmo e quando menos percebemos já estávamos no ponto mais alto da subida. Estávamos em um novo país, chegamos na Espanha. Chegar no alto foi muito legal, ver todo o vale lá embaixo foi lindo. Tomamos um ar e agora era hora de descer até o nosso destino final, a cidade de Roncesvalles. Aqui a opção de hospedagem é o grande albergue. Chegamos e logo fui para a fila para garantir as nossas camas. Por ser o único logo após o dia puxado de subidas, ele é bem concorrido. Na fila, já percebemos o português rolando e pudemos identificar os brasileiros que iriam fazer o caminho. Aqui conhecemos um amigo peregrino, o Falconi, que estava fazendo o caminho pela primeira vez também de bicicleta. Falconi foi aquela pessoa que o caminho coloca em nossas vidas, por alguma razão, mas não foi nesse dia que essa história se desenrolou. Estávamos cansados e sem comida para cozinhar, então decidimos jantar o menu peregrino (uma espécie de prato feito que basicamente tem: uma entrada, prato principal, sobremesa e 1 taça de vinho, por preços variando entre 15 e 20 euros por pessoa). Nesse dia aproveitamos também para secar a nossa barraca, os dias de chuva em SJPP foram muitos e não poderíamos deixar a barraca molhada durante o caminho. Ao fim do dia a Dani participou da missa peregrina que foi realizada na capela. Lá também conheceu outros brasileiros que iriam fazer o caminho a pé.

Pamplona
Logo cedo (05:00) os peregrinos começam a acordar e se prepararem para começar a caminhada. Esse albergue tinha uma regra: todos os peregrinos deveriam sair até as 07:30. Nessa primeira noite já percebemos duas coisas: teríamos que acordar mais cedo do que estávamos acostumado e teríamos que conviver com pessoas e seus hábitos (rs). Saímos no limite do horário e fazia muito frio. Já estávamos em pleno outono e os dias estavam bem típicos: frio de manhã, calor durante o dia e frio a noite. Acordamos empolgados para o segundo dia, e logo cedo tivemos o reforço de que o caminho não era para ser feito com bicicletas de cicloturismo. Teentamos insistir em fazer pelo mesmo caminho dos peregrinos mas foi uma péssima ideia. Com a bicicleta com o volume dos alforjes nos forçava a ter que “buzinar” para avisar os peregrinos que estávamos querendo passagem (o que não era legal sob vários aspectos), com isso pedalávamos mais devagar nos obrigando a ter que parar a bicicleta por completo para então passar os peregrinos. Estava decidido: iríamos fazer o caminho pelas estradas de asfalto paralelas ao caminho. Seguimos o dia pedalando por vilas pequenas do caminho. Fazia um sol bonito e estava agradável pedalar. Logo vieram as subidas e percebemos que o sobe e desce só estava começando. Ao longo do dia fomos encontrando os peregrinos nos pontos em que o caminho cruzava com a estrada e foi legal ficar observando eles passarem ali. Era o nosso momento de descanso também. Com o tempo de estrada que estávamos, já percebemos que estávamos carregando coisas que não usamos em quase 2 meses de viagem e estava começando a “cobrar” um pouco. Estávamos pensando em despachar coisas para o Brasil quando chegássemos em Portugal. Seguimos com o pedal e ao fim do dia chegamos em Pamplona. Demoramos para encontrar um albergue pois os que estavam na entrada da cidade já estavam lotados. Tivemos que ir para a região central da cidade, onde teríamos mais opções. Conseguimos vaga em um albergue bem central e a um preço interessante. Pamplona foi uma cidade que gostamos bastante. Como estávamos em horário de verão ainda deu para nos hospedarmos e caminhar por uma parte da cidade. Conhecemos parte do centro histórico, vimos uma arena de touros por fora (é bizarro em pensar o que acontece ali dentro), tomamos uma cerveja e vimos uma passeata em apoio o separação da Catalunha da Espanha. Voltamos ao albergue e deu tempo de fazer uma janta e descansar o corpo. Em Pamplona comprei um guia Michelin específico sobre o caminho de Santiago. É um guia bem detalhado com cada etapa, altimetrias e mapa detalhado com as possibilidades de estradas. A partir desse guia físico conseguimos planejar todo o nosso percurso de maneira que saíssemos de uma cidade e chegássemos na outra acompanhando o caminho no paralelo.

Estella
O dia amanheceu, tomamos nosso café da manhã e partimos para o pedal do dia. Esse albergue que ficamos conseguimos ficar em uma ala “isolada” dos peregrinos, explicamos para a encarregada que estávamos de bicicleta e que não precisaríamos acordar tão cedo, a moça simpatizou conosco e deixou nós em uma área sem vizinhos nas camas. Depois desse dia, sempre tentávamos encontrar um canto mais isolado (nem sempre conseguíamos). O dia estava lindo, com um sol bem suave no começo. A saída de Pamplona foi muito tranquila, como temos saído quase no mesmo horário que os peregrinos (que estão a pé), e é muito comum encontrarmos eles no caminho. Muitos deles saem em grupo ou sozinhos. A cidade é conhecida pela corrida de touros (encierro) que é literalmente uma corrida na qual touros são soltos nas ruas estreitas da parte antiga da cidade e dale correr dos bichos. Deve ser adrenalina pura mas ao mesmo tempo é bem perigosa. Tem vídeos no Youtube com os participantes sofrendo golpes feios dos touros. Tradições a parte, gostamos muito de Pamplona. Já começou a aumentar o calor e seguimos com o nosso pedal. Perto do horário do almoço, chegamos a cidade Puente de La Reina. A vila é muito bonita, com uma parte das suas ruas ainda em pedra. A atração principal aqui é a famosa ponte na saída da cidade. A ponte é formada por 6 arcos no estilo romano que quando refletidos no rio fazem uma foto bem simétrica. Optamos por parar nessa vila e fazer o nosso almoço. Paramos bem no começo da ponte, em frente ao museu da cidade e ficamos observando os peregrinos. Em um momento apareceu um brasileiro, reencontramos o Falconi. Ele estava fazendo o caminho de Santiago de bicicleta (pelo caminho propriamente) e aqui que a nossa história com o Falconi começou. Ele reconheceu a Dani e começamos a bater papo sobre as primeiras impressões sobre o caminho. Ele contou que estava fazendo o caminho sozinho mas que já tinha feito vários amigos (grande maioria brasileiros). O Falconi é um cara bem comunicativo e gosta muito de interagir com as pessoas. Comentamos com ele qual seria o nosso plano de trajeto, mostramos o guia da Michelin (ele tinha um também) e compartilhamos que nossa cidade de destino final no dia seria Estella. Ele comentou que também iria para lá. Nos despedimos, ele seguiu o trajeto e nós fomos por uma estrada paralela. O calor continuava forte e tínhamos pela frente um bela subida. Foi sofrida, um calor pesado. Depois de uma subida, vem uma bela descida. E foi assim até a cidade de Estella. Chegamos e já fomos buscar acomodação. Ficamos em um albergue nas redondezas da cidade. Era um albergue com uma proposta diferente, eles tinham em seu staff pessoas com síndrome de down que ajudavam a manter o lugar, muito legal poder ver essa diversidade no caminho também. Saímos para buscar comida para a nossa janta e passear pela cidade. Fomos até a praça principal da cidade e paramos por ali para observar novamente os locais.

Navarrete
Acordamos cedo novamente e o dia amanheceu chuvoso. Chuva intensa. Tomamos nosso café e já vimos que não seria um dia prazeroso. Saímos debaixo de chuva e logo na saída reencontramos o Falconi (baita coincidência). Ele comentou se poderia nos acompanhar no dia de hoje (ele não estava a fim de fazer o dia de hoje pelo caminho), comentamos que sim e assim foi o nosso dia, pedalamos com o Falconi o tempo todo. Foi um dia bem legal, conhecemos o Falconi, contamos a nossa história (das viagens e da vida) e ele contou as suas histórias de vida. Percebemos que tínhamos várias coisas em comum: os pais dele moravam no mesmo bairro que morávamos em Curitiba, ele gostava de viagens e por aí vai. Deu uma sintonia muito boa logo de cara. A chuva deu uma trégua para nós e fomos seguindo pelo caminho. A região era feita de sobe e desce o tempo todo. Em um momento até passamos por um trecho da Vuelta (a famosa volta ciclística da Espanha). Era uma região bem bonita, em alguns momentos até reencontramos os peregrinos que caminhavam ao lado da estrada. Almoçamos em uma cidade a beira da estrada e o Falconi aproveitou para ir carimbar a credencial dele na igreja da cidade. Ele tem carimbado a credencial peregrina dele em quase todas as cidades e vilas que ele passa. Seguimos viagem e chegamos a nosso destino final do dia. Inicialmente iríamos terminar nosso dia de pedal em Logroños porém fomos convencidos pelo Falconi para seguirmos com ele até a cidade que ele iria dormir naquele dia (ele fez a reserva de todas as acomodações durante o caminho, diferente de nós, que não reservamos nenhuma), a pequena cidade Navarrete. No fim do dia passamos por Logroños e aproveitamos para descansar e ver um pouco da cidade. Paramos em uma praça que estava tendo uma festa e estava cheia de barracas com comida. Passamos devagar só observando os tachos de paella gigantescos. Deu vontade de parar o pedal e mandar um prato. Fizemos melhor (sic) sentamos em um bar e pedimos uma cerveja (eu e o Falconi), a Dani sabia que é não tomou pois ainda faltavam uns 15km até Navarrete, e foi aí que eu não aprendi a lição (hahaha). Confesso que não foram os melhores 15km de pedal da viagem. Chegamos em Navarrete e fomos procurar um lugar para ficar. Todos os albergues estavam cheios e demoramos para encontrar um lugar para ficar. Encontramos um apart hotel bem no meio da cidade, bem localizado e lá ficamos por 2 noites. No dia seguinte seria nosso dia de descanso. A noite fomos dar uma passeada com o Falconi e visitamos a igreja de Navarrete (era tanto ouro no altar que chegou a doer os olhos). Era bem imponente como toda igreja católica.

Viloria de Rioja
Combinamos de reencontrar o Falconi em Burgos, porém decidimos parar em uma cidade intermediária. Nosso caminho hoje foi mais puxado. Tivemos que continuar percorrendo estradas secundárias e paralelas a estrada principal (N-120), o que ao longo do dia aumenta um pouco as distâncias. O caminho continua sendo bonito, saímos com um sol e ele nos acompanhou o dia todo. Nesse dia tive que pensar na rota combinando o mapa físico da Michelin e o aplicativo que estava usando (para traçar a rota). O caminha mais curto e mais rápido seria ir pela N-120 porém além de ser proibido trafegarmos em auto-pistas aqui na Europa seria muito chato e em alguns momentos perigoso. Dito isso, seguimos pedalando pelas estradas que pudessem nos levar até nosso destino. Chegamos na pequena vila de Viloria de Rioja, bem simpática com poucas coisas para ver. Fomos direto para o único albergue peregrino que tinha, esse foi um albergue indicado pelo Falconi (ele iria ficar lá na noite anterior). O albergue é do casal da Brasileiros Acacio e Orietta, a história deles é muito bonita. Ambos se conheceram no caminho de Santiago de Compostela, criaram uma conexão com o caminho e decidiram montar o albergue para acolher os peregrinos. Foi o albergue que mais gostamos, disparado. Talvez pelo aconchego criado pelo casal ou pelo jantar regado a arroz e feijão com farinha de mandioca. Eles fazem um ritual bem legal com os peregrinos que estão hospedados no albergue deles. Eles convidam todos as pessoas hospedadas a jantarem na mesma mesa e cada pessoa paga o valor que achar justo por aquela refeição. Achamos de uma sensibilidade enorme por parte deles esse gesto. Foi uma noite muito agradável, todos os que estavam hospedados jantaram a mesa e puderam compartilhar a sua motivação por estarem fazendo o caminho. Nessa noite percebemos que as motivações são diversas, e talvez aqui é a beleza de quem faz o caminho. Nós, como bem colocou a Dani, não estávamos fazendo o caminho, ele apenas estava em nossa rota. Foi uma experiência muito agradável conhecer o casal, Acacio e Orietta.

Burgos
Assim como todos os albergues, saímos no mesmo horário do peregrinos depois do café da manhã. Arrumamos as bicicletas e partimos rumo a Burgos. Tem feito dias de sol bem seco por aqui, sair cedo tem ajudado a evitar o calorzão. Logo pela manhã voltamos a estrada principal, dessa vez não conseguiríamos evitar pegar a estrada principal. Confesso que não é o meu tipo de trajeto predileto (estar no meio dos carros em uma auto-pista) mas era a nossa única opção. No começo conseguíamos ver os peregrinos andando em um caminho paralelo a auto-pista o que era bem legal de acompanhar. Sempre comentávamos do peso e o tamanho das mochilas que cada peregrino levava. Haviam peregrinos bem enxutos, mas tinham alguns que tínhamos dó pelas costas e a coluna do peregrino. Antes de chegarmos a Burgos (uma grande cidade) presenciamos uma cena que nos deixou bem surpresos. Estávamos nas redondezas de Burgos, nos aproximando tivemos que literalmente pedalar pela pista, não era a auto-pista mas caminhões ainda circulavam por ali. Quando entramos na pista, logo vi um caminhão se aproximando pelo espelho retrovisor da bicicleta. Já arregalei os olhos pensando: “ele vai passar por nós, passando aquela fina.” para nossa surpresa, esse caminhão simplesmente reduziu a velocidade, a um nível que quase parou, esperou passarmos pelo estreito trecho que estávamos dividindo a pista e assim que terminamos e pudemos voltar para o acostamento ele passou por nós. Ficamos simplesmente tocados com o gesto que acabávamos de presenciar. Deu uma esperança de que todos os modais podem conviver perfeitamente bem com respeito mútuo. Aqui a frase “o maior cuida do menor” fez muito sentido. Chegamos em Burgos e logo fomos para o albergue que tínhamos escolhido para pernoitar. Foi o albergue mais lotado que pegamos e o maior também. Era gigante, com vários andares. Como chegamos cedo, aproveitei para ir atrás de peças de reposição para  as bicicletas. Acabei encontrando o que queria. A noite combinamos de rever nosso amigo Falconi e fomos jantar com ele. A principal atração de Burgos é a sua gigantesca catedral. Passear pelos seus arredores é muito interessante. É a parte mais antiga da cidade, e tem suas ruelas charmosas com seus restaurantes de tapas e cafés.

Frómista
Acordamos cedo de Burgos, nesse momento do caminho estávamos já acostumados por quase nos “expulsarem” dos albergues. Tomamos um café da manhã no próprio albergue. Normalmente somos um dos últimos a sair dos albergues. Iniciamos o dia saindo da cidade, e aproveitamos para ver uma outra parte de Burgos. O Falconi encontrou nós na saída de Burgos e fomos com ele até um trecho do caminho. Depois tivemos que seguir a nossa rota e ele resolveu voltar a pedalar pelo caminho Francês junto com os peregrinos. Combinamos de nos encontrarmos no dia seguinte, já que ele iria dormir em uma para frente de nosso destino final (Frómista). Hoje foi um dia bem puxado. Estamos em uma região bem seca aqui da Espanha. A paisagem não tem mudado muito por aqui. Entramos em um planície grande. Chegamos em Fromista e de novo, chegamos cedo e deu tempo de nos hospedarmos e ainda sair para ir no supermercado para comprar a nossa janta. Chegamos e fomos buscar lugar para dormir em um albergue indicado pelo Falconi, mas já estava lotado. Fomos atrás de outro e a única opção que tinha era um albergue mais afastado do centro da cidade. Não gostamos desse albergue. O dono era bem rude, não respondia nossas dúvidas de maneira acolhedora, bem diferente do albergue do Acacio (lembram?). Bom, como seria por uma noite apenas, demos um desconto. Fomos dormir cedo novamente, além do querido dono ser um grosso, esse foi o albergue que tivemos que sair mais cedo. A regra era: todos os hóspedes deveriam fazer o check-out até as 06:00. Não havia nada que pudéssemos fazer. Nesse momento do caminho já estávamos acostumados com conviver com mais pessoas, além de nós dois somente. Confesso que começava a incomodar um pouco. Convívio entre seres humanos é algo complicado (rs).

Sahagun
Saímos no horário, 06:00 da manhã já estávamos com as bicicletas na rua. Fazia muito frio e estava escuro ainda. Decidimos ir até o centro da vila e parar para tomar um café da manhã. Compramos um café e um crossaint. Foi uma das manhãs mais geladas que pegamos, já estamos no Outono por aqui. Assim que os primeiros raios de sol decidimos começar o pedal do dia. Logo na primeira cidade encontramos o Falconi já na estrada, o hotel que ele estava ficava bem na estrada. Foi uma manhã gelada. Ventava um pouco o que deixava o pedal meio desconfortável. Logo depois de um tempo de pedal decidimos parar para nos aquecermos com um café. A essas alturas do caminho já estávamos bem íntimos do Falconi, tínhamos conversas para o dia todo. Ele estava bem motivado por estar fazendo o caminho de Santiago de Compostela. Chegamos em nosso destino do dia e a cidade Sahagun tem um significado importante para os peregrinos. Ela é cidade que indica que você está na metade do caminho Francês. Não tínhamos reserva para essa cidade também porém decidimos tentar o hotel que o Falconi havia reservado. Por sorte, eles tinham vagas para o nós no albergue que eles mantêm também. Como estava em nosso dia de descanso, decidimos ficar mais uma noite em Sahagun. Tivemos que negociar com o pessoal do albergue, pois normalmente o peregrino só pode ficar 1 noite. Deu certo, explicamos que estávamos no caminho e não fazendo o caminho e eles deixaram que ficássemos. Os dias de descanso são ótimos para além de descansar o corpo, podemos cozinhar as 3 refeições completas, tomar uma cervejinha e espairecer os pensamentos. As vezes, eu aproveito para dar uma manutenção nas bicicletas também. No dia que chegamos, fomos ao centro da cidade, o Falconi queria pegar o certificado de ‘meio do caminho’ que a igreja local fornece (óbvio que tem um custo aqui). Ele tava bem contente que havia chegado até ali. Encontramos um casal de brasileiros que também estavam na cidade. Passeamos pela cidade e depois compramos comida nos supermercado para celebrarmos a conquista do nosso amigo. Nos despedimos do Falconi no dia seguinte e combinamos de nos encontrarmos em Ponferrada.

Leon
Acordamos cedo, preparamos nosso café da manhã e saímos para voltar a pedalar. O descanso é importante, mas o retorno, pelo menos os primeiros quilômetros de pedal são mais devagar. Demora um pouco para o corpo se conectar novamente ao movimento. Não seria um dia tão interessante em termos de visual. Os dias voltaram a ficar quentes. E quanto mais quente, mais ’sofrido’ fica para nós, principalmente quando estamos indo para uma área mais montanhosa, que é o que estávamos começando. Leon é uma cidade grande. Logo que chegamos fomos para a região central buscar um lugar para ficar, mas o albergue que recebemos indicação já estava lotado. Tivemos que voltar para a região mais próxima da estrada que acessamos a cidade. Encontramos um albergue bem moderno e novo. Gostamos bastante desse albergue. Decidimos almoçar e bater uma perna para conhecer a cidade a tarde. As distâncias que temos feito tem nos possibilitado chegar nas cidades e ainda conhecer uma parte delas. Leon, assim como toda a cidade espanhola, tem uma praça central rodeada com os prédios antigos que normalmente funcionam a prefeitura ou algum outro órgão do governo. Normalmente são as partes mais antigas onde se concentram os restaurantes, lojas e cafés. Aproveitamos a boa infra-estrutura do albergue e até lavamos algumas roupas.

Astorga
Nos aprontamos e começamos o nosso pedal. Seguimos pelo caminho, com o nosso destino final do dia a cidade de Astorga. A Dani já esta demonstrando um certo cansaço. Já passamos de 2 meses de viagem e para ela tem sido um grande esforço. Ela tem se mantido motivada, da sua maneira. As pausas que temos feito a cada 4 dias pedalando, tem ajudado muito nesse processo. Mais um dia quente. Voltamos a encontrar peregrinos andando mais próximos da estrada, o que de um certo modo nos entretem um pouco, quebra um pouco a monotonia. Temos visto de tudo. A partir de Astorga começamos a parte mais montanhosa do caminho. Chegar na cidade foi um treino (rs). Ela fica no topo de um morro e a subida é bem íngreme. A Dani chegou bufando (de raiva e de cansaço) nesse dia. Paramos no primeiro albergue de nossa lista e conseguimos um lugar para ficar. Tivemos uma baita sorte nesse albergue, conseguiram nos encaixar em um quarto privado. Foi a melhor coisa que nos aconteceu no dia. Conseguimos nos isolar um pouco dos peregrinos barulhentos. Sem roncos, foi uma das melhores noites que passamos durante todo o caminho. Dormimos bem. Aproveitamos para conhecer Astorga. Logo no centro da cidade é possível observar um museu ao céu aberto que mostra ruínas antigas. Depois fomos a para praça principal. Aproveitamos para ficar observando as pessoas, era um domingo. Fomos dormir cedo, sabíamos que o dia seguinte seria de subida.

Ponferrada
O albergue que dormimos em Astorga era relativamente grande, e era daqueles que te jogavam cedo para a estrada. Começamos o nosso pedal do dia com novamente peregrinos andando em paralelo a estrada que nós estávamos. Logo no começo do dia fizemos a nossa já clássica parada para o café matinal. Paramos em um vila tão pequena que de dentro do café dava para observar os peregrinos passando. Nesse café encontramos outros dois brasileiros que estavam fazendo o caminho, coincidentemente eles eram de Curitiba também. Cafézinho tomado, seguimos nosso pedal. Logo já começou a subida prevista que nos levaria ao um dos pontos do caminho bem aguardado pelos peregrinos, a famosa Cruz de Ferro. Foi uma subida longa porém fomos no nosso ritmo, sem pressa. Depois da Cruz de Ferro, aí sim, foi só alegria. Um linda e grande descida até a cidade de Ponferrada. No meio da descida passamos por vilas muito pequenas e charmosas que pensamos que seria muito legal ficar por ali. Chegamos em Ponferrada e já fomos para o albergue. O albergue tinha um esquema de pagamento diferente. O peregrino pagava quanto achava interessante pagar. Achamos legal essa ideia pois ela não inibe o pagamento e na grande maioria as pessoas pagam o valor justo. No fim do dia o Falconi deu uma passada no albergue para combinarmos como seria o próximo dia e ainda aproveitou para participar de uma missa que seria celebrada na capela do albergue.

Pedrafita do Cebreiro
Cedinho já estávamos saindo do albergue e encontramos o Falconi no hotel que ele estava. Aproveitamos para conhecer o castelo que tem na cidade. Muito legal ver uma fortificação daquele tamanho no meio de uma cidade. O dia amanheceu meio nublado, o que seria ótimo se não fosse a limpada de tempo e o calor que fez. Viemos pedalando por um vale e sabíamos que iríamos iniciar uma série de subidas. O calor estava intenso. Paramos para almoçar (lanche) em uma cidade e tentamos ficar o máximo de tempo lá, para evitar o sol forte do meio-dia. Não conseguimos ficar muito tempo, e tivemos que seguir com o pedal. Em um momento vimos uma sequencia de torneiras bem no pé da subida, não pensamos duas vezes, entramos literalmente com o corpo todo dentro. Saímos ensopados com aquela água refrescante. Seguimos o pedal e a região já havia mudado bastante. Estávamos em região montanhosa. Como estávamos na transição entre Verão e Outono, os dias estavam quentes de sol claro e no fim do dia fazia um friozinho. Nosso destino final do dia seria a cidade de Pedrafita do Cebreiro. Não pensávamos em ficar nela, porém o dia quente, as subidas pesadas e a reserva do Falconi em um hotel na cidade, nos convenceram de ficar nela. Foi um dia bem puxado, e chegar no hotel foi um alívio. Esse foi o único hotel que ficamos durante todo o caminho. Pagamos um valor acima do nosso orçamento nesse dia. Nos alojamos e fomos dar um passeio pela cidade. Paramos em um bar para tomar uma cerveja, que foi merecida. No fim do dia fomos jantar no único restaurante que estava aberto. Fomos dormir cedo pois o próximo dia prometia.

Sarria
Saímos cedo, hoje iríamos subir O Cebreiro, não pelo caminho, iríamos subir pela estrada paralela. O Falconi decidiu nos acompanhar, no plano original dele, ele iria fazer esse trecho por dentro do caminho, para poder ver a cruz d’O Cebreiro. Iniciamos o pedal já com as marchas leves e foi assim durante boa parte da manhã. O visual da subida é lindo. Viemos contornando um vale até chegarmos a 1300 metros, o ponto mais alto do Caminho de Santiago. Para nós também foi. Ficamos muitos felizes de termos conseguido chegar até lá. Como os últimos dias foram de “escalada” no pedal, esse dia foi só esse ataque ao cume. Logo que chegamos no topo, descansamos e ficamos observando o visual. O Falconi ficou conosco um tempo, e depois entrou dentro do caminho, ele queria ir até o albergue que ficava no topo do cume para carimbar a sua credencial. Decidimos que iríamos seguir nosso pedal morro abaixo. A partir desse dia só iríamos encontrar o Falconi em Santiago de Compostela. Chegamos em Sarria. Uma cidade relativamente grande pelas que tínhamos passado. Chegamos e fomos buscar um albergue, estávamos sem opções nessa cidade. Entramos em uma rua que parecia ter um camping, porém estava fechado já. Voltamos para a entrada dessa mesma rua e entramos em alguns albergues que tinham nela. Fomos vendo os valores de cada um. No dia seguinte seria nosso dia descanso, então estava pechinchando um valor com desconto. Escolhemos um hotel que também tinha um albergue junto. O dono fez o mesmo preço do albergue para o quarto do hotel. A Dani gostou da negociação. iria poder descansar bem novamente. Eu aproveitei o nosso dia de descanso para fazer uma pequena manutenção nas bicicletas. Nesse dia, tive a oportunidade de conversar com um homem que estava fazendo o caminho pela primeira vez (após a cura de uma doença) e ele tinha saído de Roma e estava esse caminho a pé. Fiquei muito tocado com toda a história e ele se sentiu confiante de contar toda ela comigo. Fiquei tocado com a história.

Palas de Rei
Depois de um descanso, chegou o dia de seguirmos nossa rota. Palas de Rei seria nossa penúltima cidade do caminho de Santiago. O dia começou com uma relativa descida até o vale do rio Minho. Depois de cruzarmos o rio (que estava com o seu nível bem abaixo) foi só subida até nossa cidade destino. Em alguns trechos desse dia pudemos ver os peregrinos novamente caminhando em paralelo a estrada que estávamos. Chegamos na cidade de Palas de Rei no final do dia. Fomos no albergue que tínhamos anotado e lá conseguimos lugar para ficar. Ficamos em um quarto compartilhado. Era um albergue bem novo, as instalações eram bem limpas. Nos acomodamos e fomos até o supermercado fazer uma compra. Compramos até cerveja para celebrar nosso penúltimo dia de caminho. Fomos dormir cedo pois no dia seguinte iríamos chegar em nosso destino final, a cidade de Santiago de Compostela.

Santiago de Compostela
Saímos cedo e estávamos prontos para chegar em nosso destino final. Teríamos quase 70km para percorrer no dia de hoje. Fazia um dia quente. Seguimos com o nosso pedal. Nesse estágio da viagem já estávamos nos acostumando com o ritmo da viagem como um todo. Já estávamos entendendo como seria a dinâmica, exceto pelo o fato de que estávamos ficando em albergues e não em campings. Mas esse fato já sabíamos desde o início do caminho de Santiago. Foi um dia de pedal cansativo. Faltando 20km de Santiago, paramos em um ponto de ônibus para descansar e ambos estávamos bem cansados. Ficamos um bom tempo nesse ponto de ônibus só resgatando as nossas energias. Aproveitamos para rever o caminho e a entrada na cidade de Santiago. Últimas subidas nas redondezas da cidade, e fim, chegávamos a Santiago de Compostela. Não foi tão emocionante a nossa chegada e também não foi na praça principal. Chegamos na cidade e ainda tínhamos que procurar um lugar para ficar. Demorou um tempo. A cidade estava lotada e consequentemente todos os albergues. Aproveitamos que estávamos perto de um supermercado, nos abastecemos e voltamos para a entrada da cidade no único albergue que encontramos vaga. Chegamos exaustos mas felizes de termos completado o caminho de Santiago de Compostela. A chegada na cidade é cheia de ansiedade por grande parte dos peregrinos, afinal, caminhar mais de 800km é querer muito entrar em contato consigo. Não é a toa que o caminho desperta e atrai esse grande número de pessoas do mundo todo. Para nós foi um pouco diferente, o caminho estava na nossa rota, não fizemos o caminho. Um dia queremos fazer o caminho, como peregrinos. Deve ser uma experiência incrível. Ficamos mais 2 dias em Santiago de Compostela, e nesses dias conseguimos ver a famosa catedral, caminhar pelas ruelas da cidade antiga, observar a reação das pessoas na frente da catedral quando da sua chegada enfim, aproveitamos o a cidade podia nos oferecer. Conseguimos reencontrar o Falconi mais uma vez antes dele retornar ao Brasil. Ele foi uma pessoa bem importante em nossa passagem pela Espanha. Percebemos que para a saída até chegarmos em Porto, em Portugal não conseguiríamos “escapar” de fazer uma outra variação do caminho até Santiago de Compostela. Decidimos então pegar mais uma credencial para começarmos o Caminho Português.

Huelva
Quando terminamos nossa pedalada por Portugal, por uma questão logística tínhamos que voltar para a Espanha e assim fizemos, voltamos para a Espanha pelo seu sul. Saímos pela manhã do camping que havíamos ficado na cidade de Monte Gordo, região praiana de Portugal. Nosso destino nesse dia seria a cidade espanhola de Huelva. Para cruzar para a Espanha precisamos pegar um ferry-boat para chegar ao outro lado da margem do rio Guadiana. Esse ferry-boat saía da cidade de Vila Real de Santo Antônio. Uma cidade pequena mas bem charmosinha. Tivemos que esperar um tempo e aproveitamos a cidade que ainda estava acordando para tomar nosso último cafézinho em terras lusitanas. Ao cruzarmos nos deparamos com uma outra Espanha, bem diferente da que vimos no norte (no Caminho de Santiago). Uma Espanha mais provinciana, mais país Espanha mesmo, menos turística. Já sentimos que o café estava mais caro, em Portugal era cerca $0,80 um expresso, aqui já estava $1,00. Viemos pedalando pela N-431 sentido Huelva. Pelo caminho percebemos muitas plantações de laranja. Por um bom tempo, elas fizeram parte de nosso pedal. Essa região do sul da Espanha é bem seca. Como demoramos um pouco para atravessar para a Espanha, chegamos em Huelva já no fim do dia. Nosso anfitrião no Warmshowers nos esperava. Ficaríamos 2 dias com essa família. Era uma família diferente, o pai era Chileno e tinha mudado para a Espanha fazia um bom tempo. Na sequencia, seus filhos quiseram seguir os passos do Pai e também tentaram a vida na Espanha. Eles moravam em um apartamento bem localizado na cidade. Chegamos e levamos as bicicletas para dentro do apartamento (sempre que víamos que não tinha um lugar seguro para elas ficarem, levávamos para dentro da casa das pessoas, quando elas entendiam a situação). Fizemos janta com eles e no dia seguinte aproveitamos para passear e conhecer a cidade, era dia de descanso. Dizem que Cristóvão Colombo partiu daqui para sua empreitada no “descobrimento” das América. Aproveitamos para planejar nossa rota final pelo Continente Europeu. Em alguns dias sairíamos com destino ao Marrocos. Nossa estadia com a família de Chilenos foi muito legal, no tempo de retorno do trabalho deles, conseguíamos trocar bastante como é a vida na Espanha e como é ser um “estrangeiro” morando na Europa. Nos despedimos de nossos amigos chilenos e seguimos viagem. Decidimos sair bem cedo, pois Sevilla estava a 93km em sua grande maioria plana.

Castilleja de la Cuesta
Bem cedo já estávamos rodando nossos pedais na estrada. Pela manhã o pedal estava rendendo muito. Nós estávamos bem empolgados com nosso ritmo. A Dani estava bem confiante em superar um distância maior que 90km em 1 dia. Nossos dias de pedais eram bem variados (nunca dava para saber o que estava por vir) mas o cafézinho do meio da manhã sempre vinha. Era essa pausa para o café que sempre dava aquela animada quando estávamos nos sentindo um pouco cansados ou desestimulados. Nesse dia não foi diferente, paramos para nosso café do meio da manhã na cidade de Niebla. Até aqui já tínhamos pedalado 30 km. O fôlego estava bom. Já tínhamos feito 1/3 do caminho em condições boas. Seguimos nosso pedal e aí tudo mudou. O que era um cenário sem vento, mudou para um vento contra que dificultou bastante nosso rendimento. Meio que deu um banho de água fria. Não desistimos, focamos em proteger a Dani do vento (ela ficava na minha cola) e eu ia tentando cortar o vento para ela. Deu certo, por um bom tempo, mas vento contra é muito chato. Não tem muito o que fazer. Perto do almoço, paramos em um posto de gasolina (única opção com sombra). Compramos uns salgadinhos, um refiro gelado e nos abastecemos com água para a perna final. Aqui já estávamos com 2/3 do caminho percorrido. Ainda estávamos confiante, confesso. Saímos depois do almoço e seguimos nosso pedal, o calor estava forte o que contribuiu bastante junto com o vento contra que não deu trégua. Viemos no esforço mas não deu certo. Cansamos e tivemos que parar somente 10km antes de Sevilha. Chegamos bem cansados, e um pouco “desapontados” por não termos chego até Sevilha. Paciência. Descolamos um hotel bem na beira da estrada e lá ficamos. No fim do dia fomos a um supermercado comprar nossa janta e fizemos queijos e cerveja no quarto do hotel. Depois daquele banho relaxamos e até repensamos que foi bom termos ficado nessa cidade antes de Sevilha. Era o que estava posto e não havia nada que podíamos fazer.

Dos Hermanas/ Algeciras
Descansamos bem, o hotel era de beira de estrada mas o quarto era bom. Pela manhã, tomamos nosso café da manhã e partimos sentido Sevilha, nosso destino final do pedal. Saímos até mais tarde por conta dos 10km que faltavam. A entrada em Sevilha foi um pouco difícil até encontramos uma ciclovia para nos levar até a região central/ mochileira da cidade. Nessa entrada ainda me distraí e acabei batendo numa mureta com os alforjes da frente o que me projetou para o chão, nada aconteceu comigo, foi mais o susto e o rasgo em um dos alforjes. Fiquei puto comigo. Assim que chegamos na zona mochileira, tivemos a surpresa de que a cidade estava cheia por conta de um evento que estava acontecendo, não tínhamos um reserva e foi aí o nosso erro, nesse dia. Decidimos continuar pedalando até uma cidade próxima chamada Dos Hermanas. Confesso que estava sendo um dia daqueles que nada dá certo e para a continuidade desse dia, quando chegamos na cidade de Dos Hermanas, sacamos 100 euros no ATM e fomos para o supermercado nos abastecer (iríamos acampar no único camping da cidade). Normalmente nossa rotina nos supermercados é: eu fico cuidando das bicicletas e a Dani vai no supermercado e faz as compras. Nesse dia fizemos o mesmo, fiquei fora do supermercado e entreguei a carteira para a Dani. Depois de um tempo ela volta e comenta “Leo, você esqueceu de me dar a carteira.”, olhei para ela e comentei que havia dado com certeza. Pronto, foi o tempo de nos olharmos e para “completar” o dia que não estava dos melhores, a Dani se distraiu e deixou a carteira junto com as compras no meio da frutas, voltou com mais produtos e a carteira já não estava mais lá. Foi um belo balde de água fria. Bom, agora éramos os dois chateados com o dia. Precisávamos contornar a situação, e lá fomos nós. Como não tínhamos um chip no celular, fomos buscar um lugar que tivesse um wi-fi. Encontramos uma panificadora e aí que as coisas da vida começam acontecer. Nessa panificadora, trabalhava a Carla, uma brasileira que morava na Espanha a um bom tempo, era casada com o dono da panificadora. Comentamos com ela o que havia acontecido e ela prontamente forneceu a senha do wifi e ainda nos ofereceu um café. Com o wifi em mãos já ligamos para o Brasil para falar com o gerente da minha conta no Brasil (para cancelar os cartões) e avisar nossas famílias do fato. Cartões cancelados e família avisada, estávamos mais tranquilos. Logo na sequencia, fomos para o camping e lá procuramos o cartão da Dani (usávamos o meu e os cartões dela eram o nosso backup). Montamos acampamento e lá fomos nós procurar os cartões dentro dos alforjes e bolsos de bolsas. Não encontramos e naquele minuto de clareza a Dani lembrou que enviamos para o Brasil junto com o Falconi (nosso amigo do Caminho de Santiago). Poutz, voltamos a estaca zero. Agora estávamos em um camping, com dinheiro suficiente para pagar/ viver por uns 5 dias de viagem (sendo que ainda tínhamos mais 15 dias de Europa antes de cruzarmos para o Marrocos). Nessas horas vem a experiência e a tranquilidade de pensar e ver as possibilidades de resolver a situação. O que fizemos: negociei com o pessoal do camping para pagar com o cartão de crédito do meu pai (eles aceitaram passar somente os números), liguei para o Brasil e fiz uma ponte com o Falconi e meu pai para que os cartões pudessem voltar para Curitiba (para que meu pai pudesse enviar por carta para o Marrocos), contatei um conhecido que trabalhava na DHL que agilizou a coleta do cartão com meu pai e envio para o Marrocos, cancelamos nossa visita a Sevilha e compramos passagem de trem para Algeciras, a passagem do ferry-boat para o Marrocos e a reserva do Airbnb em Tanger, tudo via online usando o cartão de crédito do meu pai. Resumindo, foi uma bela dor de cabeça (rs). Esqueci de mencionar que aqueles 100 euros que tínhamos recém sacados estavam na minha carteira? Pois é, vai vendo. Situação financeira “resolvida”, reservas online feitas, decidimos antecipar a ida para o Marrocos. No dia seguinte pegamos um trem até Algeciras, dormimos 1 noite na cidade (usamos parte do dinheiro reserva para tal) e no próximo dia fomos para o Marrocos.


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Postado por Leonardo Joucowski

Um cara do bem, que se esforça para escrever algo legal. Casado com a Dani e em estado de inquietude eterna.

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