Índia
Chegou a hora de escrever sobre a nossa experiência na Índia. A Índia para nós foi um país de muitos. Muita gente, muito cheiro, muita coisa, muitos deuses, muitos templos, muita comida picante, muitos trens, muita negociação, muito barulho, muita sujeira, muita calma, muito puja, muita crença, muita complexidade, enfim a Índia é um país de muitos, sem exageros. Nós decidimos visitar a Índia de uma maneira bem profunda. Ficamos exatos 58 dias nesse país. A Índia foi o país onde nos encontramos com meus pais.
A história dos meus pais para visitar a Índia
O Silvião e a Estelinha, como eu carinhosamente chamo meus pais, foram nos visitar na Índia. Você deve estar se perguntando, “Mas Leo, tanto país mais tranquilo, mais “bonito”, mais fácil de viajar e os seus pais escolheram logo a Índia?”, pois é meu caro, te digo, esses jovens aí tem uma bagagem enorme de vivência, que não seria uma Índia para intimidar esses dois. Aliás, no auge dos seus 63 anos e 66 anos, eles dão um baile em muito mochileiro pelo caminho que encontramos. Essa história começou lá atrás, quando meus pais eram jovens como nós e acampavam nas praias do sul do Brasil, na época em que camping era uma coisa primitiva e que fazia com que a criatividade e o desprendimento de viver a experiência de acampar eram vivas. Meus pais são mochileiros natos, mas não sabem. Já fizeram o Brasil inteiro de brasília nos anos 70, já foram para o sul do mundo (Patagônia) de carro, já fizeram mais de 5 viagens de moto pelo Brasil e América Latina, junto com um grupo de amigos apelidado de Moto Véio. Já conheceram alguns países na Europa e América do Norte, enfim, meu caro, tem história aí para ouvir, viu? Quando anunciamos que iríamos viajar o mundo, meus pais levaram exatas 24 horas para anunciar que iriam nos visitar e a escolha foi categórica, “vamos encontrar vocês na Índia!”. E para a nossa surpresa, quando perguntamos o porquê da Índia, a resposta foi: “Do mundo que conhecemos, se existe um país que precisamos conhecer por tudo que ele representa, esse país é a Índia. Sempre sonhamos em chegar naquele lado do mundo.” Vai vendo quem é mochileiro de verdade ;).
Gorakhpur/ Kushinagar
A nossa saída do Nepal foi pela cidade de fronteira chamada Bhairahawa (lado Nepal). A cidade em si não tem muito, como grande maioria das cidades fronteiriças, ela é somente o ponto de cruzo para a Índia. Saímos do hotel e pegamos um ônibus até a fronteira. Saída do Nepal feita, agora estávamos na Índia. E aí meu amigo, a parada era outra. Nós sempre brincamos que o Nepal foi uma mini-Índia para nós, o que foi excelente para a nossa adaptação. Logo de cara a Índia já nos dava as boas-vindas! Já topamos com aquela clássica sujeirada. Caminhamos até o posto de imigração (uma portinha bem pequena onde quase se confundia com a loja de roupas ao lado). Passaporte carimbado, agora precisávamos encontrar algum transporte para Gorakhpur, nossa primeira cidade. Já era mais de 14:00 quando cruzamos e eu sabia que teríamos umas belas 4 horas pela frente, seja lá com o quê. Por sorte, pegamos um ônibus que estava para sair em direção a Gorakhpur, sorte mesmo, já que não tínhamos nenhuma informação de transporte ali. No ônibus só nós de gringos. O restante dos passageiros eram Indianos ou nepaleses que voltaram ao Nepal só para renovar o visto. Chegamos em Gorakhpur já era fim do dia. Estávamos cansados e ainda teríamos que buscar um hotel. Não tínhamos reserva porém sabíamos onde era uma área boa para ficar ali. Logo de cara pegamos o nosso primeiro rickhsaw movido a motor humano, os famosos rickhsaw de bicicleta. O hotel que ficamos era bom, porém meio decadente. Alguns ratos na rua, vacas, gente, MUITA GENTE também, enfim, estávamos na Índia, finalmente.
Já fomos passear pela cidade no dia seguinte para comprar a nossa primeira passagem de trem e também entender a dinâmica do novo país. Já tivemos nossa primeira experiência com o povo indiano. Estávamos na estação de trem quando fomos tentar comprar uma passagem no guichê na hora para o outro dia (hahahaha, inocentes). Fomos informados que tínhamos que entrar em um esquema chamado bilhete Tatkal (o bilhete de última hora, também conhecido O BILHETE DOS DESESPERADOS). Eis que do nada, na estação, um indiano muito do simpático nos aborda e oferece ajuda para a compra do tal bilhete, comentamos que seria nossa primeira experiência e o cara foi mais que solícito, nos ajudou a preencher o formulário que iríamos entregar, e ainda me levou na sua moto para uma loja tirar xerox do meu passaporte para entregar junto a esse tipo de bilhete. Incrível! E deu tudo certo, conseguimos comprar um trem para o nosso próximo destino, Alllahabad. Já que estávamos bem ao norte da Índia, decidimos visitar uma das 4 principais cidades para o Budismo fomos visitar Kushinagar, onde Buda teria falecido. A cidade é literalmente formada por uma rua que tem o formato de L. Bem pequena. Pegamos um ônibus e fomos até a cidade. Chegamos no fim do dia e logo fomos procurar um lugar para dormir. Por ser uma cidade importante, muitos países construíram templos budistas em homenagem a Buda e alguns também possuem monastérios onde os monges residem. Acabou que ficamos no monastério tibetano, e foi a melhor coisa que fizemos. A Dani adorou que conseguimos ficar justamente nesse monastério. Kushinagar, mesmo sendo na Índia, era muito tranquila e silenciosa. Ao anoitecer, ficamos numa parte externa do monastério “roubando”um Wi-Fi e só ficávamos ouvindo os grilos cantando. Paraíso na Índia! No dia seguinte fomos conhecer os templos e a estupa onde Buda teria morrido. Estávamos felizes por estar ali. Aproveitamos os dias que ficamos lá para descansar, a Dani até meditou em uma manhã. Quando os monges estavam pelo monastério conseguia conversar com eles e até comentei da viagem que estávamos fazendo. Eles ficaram surpresos com o roteiro que estávamos fazendo, até perguntaram se iríamos visitar o Tibet, comentei que infelizmente não. Tínhamos que seguir viagem, já que nosso trem para Allahabad já estava nos aguardando. Quando fomos nos despedir dos monges, um deles trouxe um fio vermelho, era uma cordinha com um nó infinito no meio. Segundo ele, era um símbolo de boa-viagem e de proteção. Diz ele que este cordão tinha sido abençoado pelo Dalai Lama. Ele está em meu pescoço até hoje =).
Voltamos para Gorakhpur. Agora tínhamos a saga de pegar o nosso trem. Escolhemos um trem noturno para ir “dormindo”. Chegamos na estação de trem e ficamos sentados esperando o trem. Conforme os minutos foram passando, só ficávamos observando a movimentação das pessoas. Em meia hora já tínhamos visto de tudo, gente, famílias inteiras dormindo no chão da estação, aquela bagunça organizada de uma estação indiana. Acredite, mesmo com toda a complexidade envolvida no contexto da Índia, os trens funcionam muito bem. Próximo da nossa hora de embarque percebemos um trem se aproximando, era o nosso, porém estávamos sentados em um lugar em que víamos toda a movimentação da estação. Eis que percebemos o movimento de pessoas correndo atrás de um vagão específico, e a cena que vimos foi incrivelmente assustadora (hahaha), cena de filme de internet. Muita gente correndo atrás do tal vagão, jovens, idosos, mulheres com crianças de colo, crianças, famílias. Nós ficamos ali, só olhando a cena. Alguns nem esperaram o trem parar completamente e já foram jogando mala por dentro de uma janela que estava aberta, e logo em seguida pulavam para dentro do trem. Uou! Agora sim, a Índia estava ali, na nossa frente mais do que nunca. Após a cena, fomos nós buscar o nosso vagão para entrar. Entramos no primeiro, não era, no segundo, também não, no terceiro já estávamos preocupados já que o trem iria parar muito pouco naquela estação. E aí, a coisa mais absurda aconteceu. Pedimos informação para o cara que estava colando a lista no lado de fora do trem (é assim que você fica sabendo qual o seu vagão e o número do assento). O cara até ficou perdido pois mostrávamos o bilhete e ele também não achava o nosso nome na lista, lá pelas tantas já estávamos com mais 10 pessoas em nossa volta entendendo o que tinha acontecido e misteriosamente conseguimos uma promoção de classe! Nosso primeiro trem na Índia seria de A3. Depois vimos que essa promoção é quase como que ganhar na loteria (hahaha).
Allahabad
Usamos Allahabad como uma cidade intermediária para chegarmos ao nosso real destino, a cidade de Khajuraho. A viagem até lá foi até que relativamente boa. A classe A3 além de ter a sua própria cama, você ganha cobertor, lençol e travesseiro! Coisa linda. A viagem levou 9 horas até Allahabad. Chegamos cedo, perto das 06:00. Como não tínhamos passagem, logo que chegamos fomos fazer a função de comprar as passagens até Khajuraho. E novamente foi uma função. Lógico que a Sleeper estava lotada, porém pudemos entrar na lista de espera para comprar as passagens. Ótimo, agora tínhamos que esperar e fazer o tempo passar ao longo do dia todo, já que nosso trem só iria partir as 23:00. Decidimos ir passear pela cidade. Tivemos que levar as nossas malas conosco. Não havia a opção de deixar na estação de trem. Acabou que descobri um restaurante bem clássico, uma espécie de café e restaurante. A comida era muito boa, e o café uma delícia. Adotamos o lugar. Ainda aproveitamos o tempo para comprar um cartão SIM para termos um número indiano que seria muito útil para a compra de passagens pelo aplicativo Clear Trip (https://www.cleartrip.com/mobile/). Ainda em nossa breve passagem por Allahabad conhecemos em um café uma brasileira que tinha recém chegado a Índia e iria fazer doutorado de 3 anos (pesado, viu? A cidade não tinha muito o que fazer…). Cogitamos a idéia de ir ao cinema, mas não tinha nenhum filme passando num horário bom. O jeito foi sentar no nosso café e ficar ali batendo papo e especulando como seria a Índia que iria se apresentar para nós. Nosso trem partiu às 23:00 e seria uma viagem até que curta, levaria só 05:00 horas até Khajuraho.
Khajuraho
Khajuraho é uma pequena cidade bem no centro-norte da Índia. A cidade é basicamente os seus famosos templos e a vida que acontece ao seu redor. Chegamos cedo, e não tínhamos nenhuma reserva. Como chegamos cedo não conseguimos comprar a nossa passagem de saída, o que deixaríamos para fazer mais tarde. Na saída da estação de trem já estavam vários motoristas de tuk-tuk só aguardando os estrangeiros para ganhar um dindin. Eu já estava craque na arte da negociação quando passamos pelo Egito e toda a vez era aquele jogo. Os valores que eles vão te cobrar serão sempre bem inflacionados, portanto, pode baixar bastante. Negociação feita, fomos em direção a cidade. A estação ficava bem distante da cidade. Chegando na cidade nosso amigo do tuk-tuk já começou com um papo querendo nos induzir a visitar um hotel antes de chegarmos na cidade. Estávamos meio que acordando ainda e demos um voto de confiança. O hotel era bem novo, bem limpo e um preço razoavelmente justo, porém ainda tivemos que negociar, é claro. O hotel ficava um pouco longe do centro e dos templos, o que fez com que caminhássemos muito. Tudo bem, já estávamos em um bom ritmo de caminhada. Os templos de Khajuraho são mundialmente conhecidos por suas esculturas com as famosas poses sexuais do Kama Sutra. Dizem que ali rolou bastante festas e surubas (eita!). As esculturas e os templos são realmente de impressionar. O detalhe das construções é incrível. Decidimos pagar para visitar os templos e ficamos uma manhã inteira lá. No dia seguinte, resolvemos visitar os outros templos, nos arredores da cidade. Esses templos são de graça, e a caminhada até lá é bem puxada. Fomos e constatamos que os mais bonitos e conservados acabaram ficando no centro da cidade mesmo. Os dias em Khajuraho estavam ótimos, o clima nesse mês de Outubro estava muito bom. Decidimos ir para Delhi e lá fomos nós tentar comprar as passagens. Como poderíamos imaginar, os preços mais baixos estavam esgotados na classe Sleeper. O jeito foi apelar para a compra de uma passagem através da um agência. Essa certamente foi a passagem mais cara que pagamos por essa classe. Não tínhamos muita opção. A estação de trem era bem afastada da cidade e ir até lá com uma grande chance de não ter uma passagem seria um custo bem alto. Passagens compradas, iríamos fazer uma breve parada em Delhi para a compra das passagens de todos os trens que iríamos fazer com os meus pais. A Índia estava mostrando-se um país incrível. Já estávamos entrando no espírito. Ah, nesse trem até Delhi, tivemos uma situação muito peculiar. Como devo ter comentado, existe a possibilidade de você “comprar “um bilhete porém não quer dizer que você terá um lugar. Isso é bem comum nos trens da Índia. Nós compramos as nossas passagens, encontramos nossas camas e lá ficamos. Puxamos papo com uma família que estava no mesmo espaço. O Pai estava viajando com mais 5 pessoas da família até Delhi com as 6 passagens em lista de espera (aquela aventura). Perto das 22:00 é a hora onde as pessoas que tem uma cama meio que a arrumam para poder dormir. Nós arrumamos as nossas, demos boa noite a família e fomos dormir. No andar do trem, lá pelas 3 da matina alguém liga a luz do corredor que dá direto na nossa cara. Em hindi, chega a real família que estava com os tickets para aqueles beliches. A confusão estava armada. A família que demos boa noite teve que sair das camas e literalmente se espalharam no chão para descansar. O caos estava ali. Em um espaço em que mal cabiam 6 pessoas, naquela altura, eu contei 15 pessoas. Lembra quando comentei que a Índia tem muita gente? Vai vendo. Fechei meus olhos e voltei a dormir.
Delhi (parte 1)
Chegamos em Delhi. Cidade grande e que como as grandes cidades do mundo sempre tem um belo caos, poluição e buzinas. Chegamos em uma das 5 estações de trem de Delhi (veja quanto é importante o transporte por trem aqui). Era uma estação afastada da “área mochileira” da cidade, que ficava mais no centro da cidade. Saímos da estação, negociamos um tuk-tuk e seguimos rumo a nova estação de trem de Delhi. Lá seria onde iríamos perder um bom tempo nas compras das passagens do restante da nossa temporada na Índia. Já sabíamos que essa estação nova tinha uma área exclusiva de passagem de trem para estrangeiros. Fomos direto para essa área bem empolgados com essa exclusividade, porém empolgação de mochileiro dura pouco. Chegando lá descobrimos que para a emissão de todas as passagens teríamos que ter todos os passaportes e os passaportes dos meus pais estavam no Brasil. O jeito foi comprar na raça mesmo. Saímos da agência e fomos para a rua. Entramos na outra seção onde todos compravam as passagens. Até que tinha uma certa organização na seção e usamos a Dani para entrar na fila preferencial para mulheres para comprar as passagens. As filas na Índia também são outro caso a parte. A Dani precisou se impor em um momento pois algumas mulheres sutilmente furavam a fila. Em um momento precisei me impor perante a um marido de uma dessas queridas furonas que a Dani pensou que ele iria me bater (hahaha). Várias horas depois conseguimos comprar todos os trechos para todos nós (milagrosamente!). Sobrou tempo para procurarmos um hotel. Fomos para a rua “mochileira” de Delhi e começamos a caça de um hotel. As opções são várias. Espertamente em várias cidades do mundo todo, sempre existem esses bairros “mochileiros”. Batemos perna, entramos em uns 4 hotéis até decidir qual caberia no nosso orçamento. O hotel era bem tosco. As paredes tinha até mofo (argh!) mas era o que podíamos pagar ali. Aproveitamos nossa breve passagem para conhecer essa região e fazer uma reserva antecipada para quando os meus pais chegassem. Caminhamos também pelo bairro C.P. (Connaught Place), um bairro mais elitista e que os turistas adoram ficar em sua passagem por Delhi. Era hora de se mover. Saímos de Delhi em um trem noturno. Foi até que um trem tranquilo. Deu até para sentir frio com a fresta da janela que não fechava direito. Estávamos movendo para o Norte da Índia, em direção as montanhas.
Rishikesh
Rishikesh é mundialmente conhecida pela capital do Yoga. Lá milhares de turistas visitam a Índia para praticar Yoga e participar de retiros espirituais nos diversos Ashram (locais destinados a retiros pessoais) espalhados pela região. Para chegar lá, o trem para em Haridwar, uma das mais importantes cidades para o hinduísmo entre outras como Varanasi. De Haridwar pegamos um ônibus (existe a opção de táxi), não para nós. A chegada em Lakshman Jhula é muito bacana. A ponte suspensa leva ao outro lado, onde ficam a maioria dos hotéis, ashrams e restaurantes. Chegamos e já começamos a procurar hotéis. Quando você cruza já avista alguns ghats (local onde os hindus entram em contato com o rio Ganges para se purificar). Depois de visitar uns 5 hotéis optamos por ficar em um hotel que ficava bem no topo do morro. Os hotéis foram construídos na margem, mas a grande maioria fica no morro. A grande maioria aproveita a altitude para subir e montar um rooftop onde os hóspedes podem contemplar as curvas do rio Ganges. Você pensa que por ser a capital da Yoga só o fato de pisar ali você irá atingir uma paz espiritual, né? Pois é, até seria se não estivéssemos na Índia (hahaha). A baguncinha e as buzinas não respeitam as fronteiras do silêncio necessário para atingir uma calma, não aqui na Índia. Aproveitamos para dar uma caminhada e começar a entender a dinâmica da cidade. Viemos para Rishikesh pois a Dani iria fazer um retiro de 1 semana em um Ashram (ela optou pelo Phool Chatti (http://www.phoolchattiyoga.com/). Aproveitamos os dias juntos em Rishikesh antes da Dani partir sozinha para o retiro. Acabou que mudamos de hotel, e achei um mais em conta para a semana que eu estaria em “retiro” no quarto do hotel (hahaha). A Dani foi e eu fiquei. Era necessário essa pausa para cada um. Estamos há mais de 9 meses juntos praticamente 24/7. Saímos cedo e fomos caminhando até o retiro, que era uns 5 Km subindo o rio Ganges. No meio do caminho cruzamos algumas famílias de macacos. A Dani estava com bastante expectativa sobre esse retiro. O caminho até o ashram é bem bonito. Quando chegamos o pessoal do Phool Chatti até nos convidou para almoçarmos. A Dani já teria um gostinho de como seria, pelo menos a refeição. E já percebemos que eles levam muito a sério essa questão do silêncio. Nesse ashram, refeição era algo importante da rotina. Deixei a Dani (ela me contou depois que sentiu muito a minha despedida, realmente estávamos muitos próximos). Voltei para a cidade e basicamente minha rotina era acordar, tomar um café bem demorado, observar os indianos fazendo puja, almoçar em um restaurante bem tradicional, voltar para o hotel e trabalhar nos próximos detalhes do roteiro (meus pais chegavam em menos de 10 dias) e caminhar pela região para conhecer os templos. Em um dia fui caminhando beirando o rio até a parte sul da cidade. Lá vários ghats podem ser vistos ao longo da beira. Em outro dia, fui caminhando até o local onde os Beatles ficaram retirados nos anos 60, diz a lenda que dali saíram grande parte das músicas do álbum Branco dos Beatles. Dá para entender o contexto que eles viveram ali através da música Dear Prudence (escute aqui na nossa playlist https://open.spotify.com/user/leonardoj-us/playlist/1TCRqeyZ51Dlu4f4p46tHo). Como o clima estava ótimo deu até para dar um mergulho no rio Ganges. Aqui é bem famoso por ser uma das únicas áreas recomendáveis para um tibum no sagrado Ganges mas as gélidas correntes entregam que ele nasce nos Himalaias. O tempo passou rápido e já era de buscar a Dani do seu retiro. Fui caminhando e no meio da caminho ainda descolei uma carona numa moto. Iríamos dormir mais uma noite no ashram, era época de Diwali (o famoso festival da luzes no qual celebra-se a destruição das forças do mal). Foi muito bacana, ajudamos o pessoal do ashram a decorar o local inteiro com mini-vasos onde colocávamos uma espécie de óleo e depois acendemos todos. Ficou lindo. Também teve fogos de artifícios e as crianças puderam brincar. Ainda ficamos mais alguns dias na cidade. Para nós estar ali foi muito importante, para a Dani, que buscava esse isolamento para um olhar mais para si, foi ainda mais especial.
Delhi (parte 2)
Saímos de Rishikesh e viemos com um trem noturno novamente até Delhi. Nossa chegada em Delhi foi na mesma nova estação de trem, que ficava bem perto da região mochileira. Estávamos prontos para receber os meus pais, que chegariam em poucos dias. Últimos detalhes da chegada deles prontos, era hora de reencontrá-los. Saímos do hotel de madrugada e fomos de tuk-tuk buscá-los no aeroporto e erramos feio. Estava bem frio, eu e a Dani batemos um queixo bonito até o aeroporto. Ficamos esperando eles um bom tempo, até eu avistar meu pai, o Silvião, na saída do aeroporto. Que alegria! Nos abraçamos e minha mãe, a Estelinha, estava bem emocionada já, ela sempre fica. Fizemos até uma faixa improvisada de boas-vindas para eles. Como estava muito frio, decidimos pegar um taxi até o bairro mochileiro. No caminho eles até tentavam contar alguma história de como tinha sido a passagem deles pela Itália (pensa o choque , eles saíram da Itália para ir para a Índia!) mas dava para ver o olhar dos dois tentando acreditar que estavam na Índia. Chegamos no hotel e fomos descansar. Acordamos um pouco mais tarde para poupar o fuso horário que eles tiveram que se adaptar e comentei com eles que iria levar eles para tomar café num lugar muito legal. Saímos na rua e eu e a Dani só observamos a cara deles! A verdadeira Índia estava ali na frente deles. Ambos estavam maravilhados com tudo aquilo, a afeição deles era de estar literalmente vivendo documentando um programa da NatGeo. Só quem é mochileiro entenderá essa sensação, onde o caos é lindo e parece que aquilo ali é bom pacas. O restaurante ficava no rooftop da principal rua e dava para ter uma visão muito boa. O Silvião quase não tomou café, só ficava tirando fotos e fazendo filmes para compartilhar com os seus amigos. A Estelinha estava com bastante saudades de nós, não desgrudava da Dani. Ainda teríamos 3 dias antes de partirmos para nossa próxima cidade e resolvemos conhecer outros lugares de Delhi. Escolhemos visitar o gigantesco Red Fort. Um forte bem no coração de Delhi. Era meio da semana mas mesmo assim, muita gente visitando o forte. Nos arredores ainda estava rolando uma celebração Hare Krishna. Depois de visitar o forte, pegamos um tuk-tuk e fomos para o centro da cidade. Decidimos levar os meus pais para visitar C.P. e almoçamos por lá. O Silvião e a Estelinha estavam se acostumando com a Índia e já não estranhavam tanto aquele mundo de gente.
Amritsar
Nossa ida para Amritsar seria para visitar o lindo Golden Temple. Esse templo que um dos mais importantes para a religião Sik. Os Siks estão entre as 4 religiões mais importantes da Índia. O Golden Temple é o maior templo Sik do mundo. Todo o trabalho é voluntário e é possível até dormir bem como comer uma refeição no templo. O templo é muito bonito, um lago artificial construído no meio de uma espécie de forte. Ao centro a principal atração do templo fica o Golden Temple que é um lugar de muita perenigração por parte dos Siks. Por dentro, o templo é todo decorado com ouro. Chegamos perto do meio-dia e pudemos observar a devoção dos Siks. Com suas famílias ou sozinhos, vinham ao templo e buscavam a purificação e rezavam. Ficamos quase a tarde toda lá. Decidimos visitar outra atração no mesmo dia. A tão famosa troca de guardas na fronteira com o Paquistão. O evento é um show realmente. Existe até uma estrutura para receber os turistas e locais de ambos os lados. Basicamente uma cerimonia de “provocação” saudável em relação ao país que se exibem mostrando ao outro país que fez uma apresentação de hasteamento de sua respectiva bandeira de maneira mais precisa, resumindo, um evento para passar o tempo (hahaha). Ver essa relação saudável entre os dois países sempre é muito bom. Ainda existe uma rivalidade velada entre os dois países, e no ano de 2014 teve até um atentado durante essa cerimônia. Eu estava um pouco apreensivo já que era o único de nós que sabia dessa informação. Fui contar para eles só depois. Saímos do evento e decidimos voltar para o templo. Lemos que a visita durante a noite valia a pena também. Chegamos no templo e agora parecia um outro templo. Todo iluminado. O ouro do templo refletido na água ficava incrível. Ficamos um bom tempo o admirando. Já era tarde e era hora de jantar. Também tínhamos lido que nesse templo existia um restaurante que servia comida de graça 24 horas por dia. Fomos jantar lá. Foi uma experiência incrível. Vou te contar que foi uma das refeições que mais me agradou em termos de como foi preparada. Como tinha muita gente para alimentar, o processo é quase que industrial e a cozinha não para. São mais de 10 mil refeições por dia e todo o trabalho que envolve a cozinha também é voluntário. Realmente é incrível. Ficamos impressionados com o volume de refeições versus a qualidade da comida. Essa é uma super dica para quem for visitar esse templo. Era hora de nos mover. E nossa rota apontava para a região mais rica da Índia e acho que a mais turística de todas, o Rajastão.
Jaipur
A nossa primeira parada no Rajastão seria na cidade de Jaipur. A cidade é muito legal. Chegamos cedo na estação e já pegamos um tuk-tuk para chegar no hotel. Esse hotel deu um certo trabalho, tive que negociar um desconto já que os chuveiros não estavam funcionando e os funcionários eram bem malandros, no sentido de tentar passar a perna em nós. Já estava calejado e foi só mais uma negociação a ser feita. Jaipur é bem turística e a região da “Pink City” é a região que concentra a grande maioria dos visitantes. A Pink City era a antiga cidade murada de Jaipur. Nosso hotel ficava um pouco afastado desse centro turístico, justamente por isso deveria ser mais barato (rs). O lado bom de ele ser afastado nos dava a oportunidade de caminhar e conhecer a cidade além das muralhas da “Pink City”. Aproveitamos a localidade também para comprar as passagens do ônibus até Jodhpur. Aqui no Rajastão é super tranquilo andar de ônibus do que em relação a outras regiões. O Rajastão é uma das regiões mais turísticas da Índia, logo o desenvolvimento da infra-estrutura é mais avançado comparando com outras regiões. Como fazemos esse trajeto várias vezes, adotamos um café (bem parecido com o café de Allahabad, bem estilo café francês dos anos 50). Íamos lá tomar um café da manhã. Passear pelas muralhas da Pink City é sensacional. Suas ruelas com todo o tipo de comércio, e o famoso Hawa Mahal, um palácio cheio de janelas que montam uma composição linda. Aproveitamos para fazer uma foto em preto e branco de um tiozinho que fotografa com uma máquina francesa de 1800, sabe daquelas que o fotógrafo entra com a cabeça debaixo ele disse que foi herança do seu pai, que trouxe a máquina da França.
Jodhpur
Jodhpur é mundialmente conhecida como a “Blue City”, um região onde as casas são pintadas com um tom de azul claro que da mesma cor que deixou o visual incrível. Chegamos em Jodhpur e fomos para o bairro mochileiro. Lá tínhamos feito uma reserva de um hotel que a princípio parecia ser bom, mas se mostrou bem meia boca. Tanto que acabou que mudamos no dia seguinte e achamos um hotel no mesmo bairro porém com as instalações bem mais interessantes para todo mundo. O hotel tinha um restaurante muito bom, a comida era bem boa. Em Jodhpur saímos um dia para visitar o forte Mehrangarh. Um lindo forte no alto do monte mais alto da cidade, cuja a vista 360 da cidade mostra uma outra Jodhpur. Vale muito a visita. As pinturas e as salas do forte representam muito bem o período vivido dentro deles. O forte realmente impressiona e pode ser avistado de toda a cidade. Nosso novo hotel ficava bem no pé do forte e fazíamos as refeições olhando para ele, que à noite ficava iluminado e era um espetáculo também. Nesse mesmo dia resolvemos visitar o mausoléu que fica bem perto do Mehrangarh, chama-se Jaswant Thada. O mausoléu é pago, mas vale a visita. Muito bem conservado as estruturas e de lá é possível ter uma visão bem privilegiada do forte. Nossos dias no Rajastão foram de descanso também. Nós já estávamos com mais de 1 mês de Índia e meus pais já estavam sentindo um pouco o ritmo da viagem. Em um dia decidimos não fazer nada. Ficamos no hotel. Subimos no terraço para tomar café e de lá não saímos (hahaha). Ficamos resolvendo os detalhes de nossos próximos destinos (Tailândia e Camboja). No outro dia tarde decidimos caminhar pela cidade de Jodhpur. Fomos visitar a “Blue City” e suas ruelas. Muito bonito, para eu que estava fotografando foi um prato cheio. As cores das casas e seus tons de azuis são demais. No fim do dia, voltamos para o centrinho da cidade e pudemos ver o relógio central, que fica bem no meio da praça principal. Ao seu redor acontecem uma feira de rua e algumas lojas vendem de tudo. Um dica boa é tomar um lassi na “lanchonete” mais clássica da cidade. Ela fica bem em uma das 2 entradas desse centrinho com o relógio central. Para aqueles que gostam de Lassi, tem que provar. Nossa passagem por Jodhpur estava chegando ao fim. Era hora de seguir em frente. Próximo destino, Udaipur, também cafonamente conhecida como “A Veneza Indiana”, vai vendo…hahaha.
Udaipur
Udaipur é um dos destinos mais visitados no Rajastão. A principal atração é o espetacular palácio City Palace. Precisa pagar para entrar nesse palácio também, mas valeu a pena a visita. Acho que na nossa passagem pela Índia, Udaipur foi a mais calma, depois de Kushinagar. Chegamos e ficamos em um hotel bem ruim, logo decidimos trocar. Fomos para outro hotel (de novo). A cidade de Udaipur também concentrou os turistas em uma região, que basicamente fica de frente para o lago que dá nome a cafonice “Veneza Indiana”, chama-se lago Pichola. Todos os hotéis oferecem os terraços para contemplar o lago, que por sinal, fica bem bacana no por do sol. Em Udaipur visitamos o City Palace, e levou mais do que um período para visitar. Nós visitamos sem pressa, então demorou. O palácio e suas áreas impressiona. É possível visitar todos os cômodos do palácio. Alguns dos cômodos eles até criam um cenário com móveis da época. O ponto interessante da visita, fica pelos vitrais no terraço do palácio (spoiler) e no final da visita é possível ver algumas pinturas clássicas do cotidiano do Mewar. Os reis desse palácio eram tão para frente que até criaram um brasão para representar o reinado. É um brasão muito bonito, com um sol e o rosto do rei ao centro. Falando assim parece palha, mas não é. É bem bonito. Em Udaipur, fizemos uma surpresa para os meus pais. De presente de Natal antecipado, fomos fazer uma aula de culinária indiana. Fizemos um suspense pra eles. Minha mãe até achava que iria pular de paraquedas (hahaha). Saímos cedo do hotel, um tuk-tuk veio nos buscar. Foi muito legal essa experiência. A Dani, minha mãe e meu pai, adoraram a aula. Eu não tenho muitas habilidades na cozinha e basicamente aproveitei os pratos e registrei o momento. Foi bem especial. No final almoçamos todos juntos na casa da professora. Em outro dia, fomos visitar o morro mais alto da cidade, fomos de tuk-tuk e na base do morro dá para pegar um bondinho. Foi o que fizemos. É um bondinho pago, mas a vista lá do topo vale a pena. Dá para ter uma bela visão da cidade, do lago e do palácio. Não preciso dizer que também descansamos um dia. Aproveitamos para andar pelo outro lado do lago. Aproveitamos para almoçar um dia na beira do lago, digamos que gastamos um pouco mais para ter esse privilégio (hahaha), nosso budget continua curto.
Agra
Fomos e vimos o Taj Mahal, brincadeira. Não vou resumir a isso, mas poderia. A cidade de Agra é mundialmente conhecida por seu monumento mais famoso, o Taj Mahal. A chegada em Agra não tem nada de muito especial. Chegamos e negociamos um tuk-tuk para o nosso hotel, que ficava nas redondezas do Taj Mahal. O hotel era bem localizado. Todo mundo vai a Agra por causa do Taj Mahal. Para os que não tem muito tempo de visitar a Índia, tem trem, excursões que saem de Delhi e fazem um day tour até o Taj Mahal. Nós já havíamos lido que Agra não teria mais nada para fazer, e ficar o mais próximo do monumento era uma boa ideia. Quando estávamos em Jodhpur fizemos uma reserva dentro da área sem carros, e o hotel ficava 1 quadra do Taj Mahal. Hotel tinha um preço justo, mesmo estando perto do monumento. Ficamos 2 dias na cidade. Nos programamos de chegar no fim do dia, já compramos os tickets para a nossa visita no dia seguinte. A região ao redor do Taj Mahal é cheia de hotéis, de vários bolsos. Fomos jantar no próprio hotel para acordar bem cedo e tentar ver o nascer do Sol no dia seguinte. Acordamos e estava um neblina pesada =/. Não dava para ver nada, decidimos voltar para a cama e dormir um pouco mais. Logo nos primeiros raios de Sol, tomamos café e já saímos para a nossa visita. A Dani e a minha Mãe estavam tão empolgadas com a visita que até fizeram uma maquiagem, colocaram suas batas indianas e foram lindas visitar. Como as pessoas falam, “a foto é para sempre, né não?”. As mulheres da minha vida estavam lindas. Para entrar no Taj Mahal, passamos por uma revista básica. Os jardins no entorno do Taj Mahal já são lindos por si. A chegada a entrada que leva a visão mais clássica do Taj Mahal é cercada de bastante expectativa. O palácio é incrível. Uma belezura, eu diria. Por ser um monumento com orientação islâmica, o Taj Mahal é um mausoléu em homenagem do príncipe Sah Jahan a sua esposa preferida, Mumtaz Mahal, a visita interna do palácio é feita descalça e no seu redor fica uma mesquita também. Agora você acha que estávamos só nós, não amiguinho, toda a visita é bombada de gente ao seu redor. Tirar uma foto só sua, sem ninguém, é impossível. Venha para a visita com essa expectativa. Aquela foto exclusiva, sem ninguém nela não vai existir. Ficamos a manhã e um pouco da tarde dentro do monumento. A Dani e a Estelinha até ensaiaram uma dancinha com a música do Jorge Benjor, muito engraçado. Era hora de partir. Nosso próximo destino seria a também famosa cidade de Varanasi, mais ao centro da Índia. Preparamos as malas, e nosso trem partiria as 22:30 da noite. Iríamos viajar a noite até Varanasi. Antes até paramos em uma pizza Hut (hahaha), isso mesmo, a lombriga ocidental bateu pesado em nós e decidimos “investir” em uma pizza. Foi só uma constatação que pizza deve ser comida em terras Ocidentais, a pizza não estava lá muito boa..acontece. Pegamos um tuk-tuk e partimos para a estação de trem. Chegamos e já fui ver o horário do nosso trem, e para a nossa “surpresa” estava atrasado, mas agora estava atrasado tipo muitas horas, só iria partir umas 04:30 da matina (uma leve atrasadinha de quase 6 horas). Falei com o Silvião, Estelinha e Dani e decidimos voltar para a cidade e procurar um lugar para dormir. Acabou que fomos direto no mesmo hotel que estávamos. Chegamos lá e explicamos a situação e que se poderíamos pegar um único quarto por apenas algumas horas, já que eram quase 23:00 e sairíamos perto das 03:00, ou seja, pouquíssimas horas. O nosso amigão não quis aceitar a nossa proposta e ainda queria cobrar o preço de uma diária inteira. Deu que discutimos bastante com o gerente e saímos bem putos com a situação. Agora estávamos na rua, no meio do bairro do Taj Mahal os quatro procurando qualquer coisa para dormir poucas horas. A nossa sorte é que sempre existe uma possibilidade, não era o melhor a fazer mas foi o que dava para ter. Achamos em um becasso uma porta que dizia Hotel. Lá já estavam 4 caras tomando uma bebida alcoólica na surdina (rs). Negociei as 4 horas de sono e ficamos um quarto os 4, eu e meus pais na cama de casal e a Dani ficou em um colchão no chão (eita). Poucas horas de sono e fomos para a estação de trem. Para a nossa alegria o trem tinha aumentado ainda mais o atraso e só iria sair as 07:30 da manhã. Deu que ficamos em uma sala de espera e lá dormimos nos bancos, como dava. Enfim, embarcamos para Varanasi. Foi uma longa viagem, chegamos lá era noite. Estávamos podres de cansado.
Varanasi
Varanasi seria mais uma daquelas cidades que são turisticamente famosas. Todos os anos, milhões de pessoas visitam Varanasi, e aqui a exaltação religiosa dos indianos é a prova máxima que eles entendem e acreditam que o rio Ganges é sagrado e poderosíssimo. A cidade e a beirada do rio Ganges exala crença e outros cheiros (rs). A nossa ida para Varanasi foi para sentir a materialização da crença indiana nessa cidade. Dizem que Varanasi está entre as cidades mais antigas do mundo. Como estávamos mortos de cansado, dormimos até acordar sem horário. Saímos do hotel já eram quase meio-dia. Fomos caminhando até os Gahts, estava nublado com neblina na beira do Rio Ganges. Passeamos pelos Gahts e chegamos perto de um local de cremação, em sinal de respeito, não fotografei. Caminhamos pelas ruelas da cidade dividindo espaço com vacas e os corpos indo para os Gahts de cremação. Paramos no que dizem ser o melhor lugar (chama-se Blue Lassi) que faz Lassi na India (coisas de guias…rs). O lassi era realmente bom, bem mais incrementado com frutas, o modo de preparo é bem a moda indiana, na rua e com aquela higiene sem olhos e sem coração ?, se der uma passada lá, você verá um cartão de visitas do better way na parede. Continuamos caminhando pela cidade e no fim do dia fomos ver a cerimonia que acontece diariamente as 18:00 nas margens do Rio Ganges. É uma celebração muito é bonita, os indianos acreditam muito no poder do Ganges que estar ali em Varanasi para eles é algo muito especial. Ver toda a crença deles é uma coisa bonita. A Dani e a Estelinha até fizeram uma oferenda no Ganges. A cerimônia é gratuita, logo fica bem cheio. Chegamos cedo e pegamos uma visão bem boa. Já era tarde quando terminou a cerimônia e voltamos para o hotel. Nosso trem sairia de manhã, chegamos na estação de trem bem antes do horário, seria um trem curto até a nossa próxima cidade, Bodhgaya, pois então, como escrevi, seria. Fomos na plataforma que indicava a partida do nosso trem, ficamos ali esperando, só dando o horário, vimos aquelas cenas clássicas de pessoas correndo atrás do vagão de um trem e um salve-se quem puder para entrar na General Class. Pegar trem na India é uma baita aventura. Além de praticamente ser uma bagunça, as vezes o trem muda de plataforma e o alto-falante avisa e chega a sua vez de sair correndo atrás do salve-se quem puder. E foi bem isso que aconteceu, nosso trem mudou de plataforma porém não ouvimos e daí já era tarde. Perdemos o nosso trem. Chegou a hora de ver um plano B. Fomos atrás de informação do próximo trem até Gaya. Fomos no centro de compra de tickets para ver nossas opções, acabou que talvez teria um trem que sairia a tarde, talvez pois as informação não eram tão precisas. Decidimos ficar na estação de trem o dia todo. Descobrimos uma vendinha de lassi local e ficamos tomando lassi e comendo samosas apimentadas. Lá pelas tantas ouvimos no alto-falante que o trem estava chegando. Decidimos não comprar o ticket e entrar no trem mesmo assim, iriamos arriscar de ter assentos vagos. Quando o trem chegamos, subimos os 4 e começamos a procurar os nossos lugares no mesmo vagão e como não achamos decidimos descer do trem. Agora era voltar no centro de compra de tickets e ver quando seria o próximo. Como havia um que partiria a noite, decidimos por comprar 4 tickets. Nosso trem partiria umas 22:00. Fiquei apreensivo pois desta vez não poderíamos perder o trem. Fomos algumas vezes verificar se o trem estava no horário. Enfim, o nosso trem chegou. Estávamos bem cansados da maratona do dia que foi tempo de achar o nosso beliche e dormir. Além da pequena bagunça de mudança de plataforma, os trens na India não avisam a próxima parada em um alto-falante dentro do trem, então você sempre pergunta para os seus vizinhos de beliche qual horário mais ou menos que o trem vai chegar na cidade que você quer descer (!) foi dessa maneira os 2 meses que ficamos e o mais de 11 trens que pegamos, vai vendo… (a manha aqui é colocar o relógio para despertar perto do horário e ficar esperando a cidade chegar e descer logo pois o trem para no máximo 5 minutos).
Bodhgaya
Nosso trem de Varanasi para Gaya chegou perto das 03:00 da manhã foi o tempo de sair da estação de trem e entrar no primeiro hotel disponível. Estávamos mortos, com fome e bem cansados. Judiei bastante dos meus pais nessa viagem (tadinhos), mas faz parte, vida de mochileiro não são só alegrias. Dormimos o que deu, e saímos bem próximo do horário do check-out. Pegamos um tuk-tuk para ir até Bodhgaya, a cidade sagrada para o budismo. O trajeto é bem curto, deu para ver a população local vivendo o cotidiano. Chegamos em Bodhgaya e fomos para o templo do Butão, tínhamos lido que eles tinham uma espécie de hospedagem dentro do monastério e gostaríamos que o Silvião e a Estelinha tivessem essa experiência. Infelizmente o monastério já estava cheio, e lá fomos nós a procura de um lugar para ficar. Deixamos meus pais num café e fomos eu e a Dani procurar um hotel. Entramos em vários, e nada. Preços caros ou lugar ruim. Decidimos entrar em um hotel que era beeeem acima do orçamento, só para tirar uma dúvida. Eis que vejo o preço e comento com o cara da recepção “estou procurando dois quartos de casal, você sabe de um hotel no bairro que possa ser mais em conta?” ele me responde “antes de te indicar, me fale quanto você está disposto a pagar.”, bom, já que ele perguntou, eu respondi e era 4 vezes menor que o valor do quarto mais barato que ele tinha. Ele não só não riu como aceitou a minha proposta, coisa de maluco ou baixa temporada. Demos uma baita sorte. Seria o melhor hotel que iriamos ficar nos últimos 3 meses, com certeza (hahaha). Na volta para a cafeteria combinei com a Dani que iriamos fazer uma pegadinha com o Silvião e a Estelinha, iriamos dizer que era o único que achamos e que teria que ser esse, porém não comentei do baita desconto que o cara nos deu. A reação deles foi engraçada, meu pai quase surtou quando viu o preço, até me chamou no canto e comentou que não precisávamos ficar num hotel desses, que o cansaço não era tanto (rs), foi engraçado. Todos ficaram bem aliviados depois de um bom tempo dormindo em lençóis que sabe se lá quando foram trocados (hahaha). Todos ficaram bem felizes de ficar no hotel. Ah, esqueci de comentar que ainda coloquei um café da manhã no preço da diária ? vai vendo o que é passar 2 meses na India, você vira um ótimo negociador, te garanto! Bom, hospedagem resolvida, fomos conhecer Bodhgaya. A cidade é mundialmente conhecida pela comunidade budista sendo reconhecida como o local onde Lord Buddha atingiu a iluminação. Passeamos pela cidade e fomos visitar o local onde a árvore da iluminação estaria. O lugar é cheio de curiosos e budistas. No local ao redor da árvore algumas pessoas meditam e cantam mantras. Muitos ocidentais estavam presente ali também. Nós fomos ali para ver. Não conseguimos meditar. Agora vou te contar uma breve história: estava lá esse que vos escreve tirando algumas fotos debaixo da árvore eis que me viro em busca da Dani e vejo a seguinte cena. Cai uma folha da árvore sagrada, uma devota que estava ali sai correndo em disparada com um certo afoito para pegar a folha, na direção contrária vem um jovem monge que também avista a folha no chão e esse que vos escreve no meio. Num rápido movimento, o jovem monge se abaixa mais rápido que a devota e pega a folha. A devota fica inconformada. O jovem monge gentilmente sorri para mim e me entrega a folha. A cena foi intensa e talvez de uma lição importante para todos. Guardei a folha como algo especial. Essa folha está em um lugar que considero sagrado, ela está lá em casa. Seguimos o passeio e fomos visitar os templos de vários países budistas espalhados pela cidade. O que mais gostamos foi o do Japão e o do Butão, esse último com um lindo altar e suas paredes com a história de Buddha pintada de uma forma que faziam esculturas na parede, muito lindo o trabalho. Como a oferta do hotel foi muito boa, decidimos ficar mais um dia na cidade e descansar. Ainda teríamos pela frente nosso último trem até Calcuta.
Calcutá
Calcuta seria a nossa última cidade visitada na India. Pegamos um trem em Gaya novamente. Esse seria um trem noturno. Já estávamos bem cansados de trem. Já comentei que foram 11, né? E o ultimo não foi fácil. Dormimos mal e ainda pegamos um beliche que tinha uma família que era beeeeem espaçosa (rs). Bom, chegamos em Calcuta pela manhã. Logo fui buscar um taxi para irmos ao hotel que reservamos. Os taxis de Calcuta são bem característicos. São amarelos bem no estilo antigo. A cidade de Calcuta é grande. Fomos direto para o hotel e descansamos. Como já estávamos um pouco “cansados” da Índia, decidimos não fazer muitas coisas na cidade. Fomos caminhando um dia para visitar o maior parque da cidade e no meio do caminho aproveitamos para visitar uma igreja católica. Calcutá é conhecida mundialmente por sua maior figura, a Madre Teresa de Calcutá. Aqui podemos ver a fé católica na Índia, mesmo ainda sendo minoria. O centro de Calcutá, assim como de qualquer cidade grande, é cheio de gente, prédios e bagunça. Se bem que aqui na Índia, bagunça é sinônimo de normalidade (rs). Já estamos bem acostumados com essa “organização” toda. Nos outros dias aproveitamos para planejar a nossa passagem pelo Sudeste Asiático. Encontramos um restaurante excelente perto do nosso hotel. Fomos jantar nele quase todos os dias, eles tinham uma espécie de Dhorne (uma espécie de um espetinho de carne). Era bom demais.
Chegamos à quase 2 meses de convivência com os indianos. Se me perguntarem: “Leo, qual o país mais diferente que você visitou?” O tiro é certeiro, a Índia, meu caro. É um mundo paralelo. É o país que mais nos tocou em termos de diferenças, diversidade, caos organizado e povo. O choque é absurdo e muitos, repito, muitos dos viajantes que conhecemos simplesmente não gostaram da Índia. Sorte ou azar nosso, a Índia nos recebeu com o que poderia oferecer, nem mais, nem menos. Nós também recebemos a Índia que nos foi apresentada, e isso foi fundamental para a nossa experiência ser como foi. Se me perguntarem: “E aí, voltam?”. Com certeza.
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